Pataniscas Satânicas

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quarta-feira, 15 de julho de 2015

O Papão vem do Norte - Parte I

A série de televisão Game of Thrones é uma metáfora da crise sócio-económica actual! 
Deixem-me explicar-vos porquê.

Já falei do poder da narrativa, e de como a nossa cultura/sociedade é reflectida pelas histórias que contamos acerca de nós mesmos.
Também já falei várias vezes do poder do Papão, e de como foi instrumental no início da civilização e da espécie humana.
Como é natural as histórias que contamos acerca do Papão dizem muito acerca do nosso passado e da maneira como interpretamos o mundo actualmente.

Um trope particularmente importante neste contexto, é o Grim Up North.

The Frozen Legion
O Trope caracteriza-se por uma associação directa entre os Poderes do Mal e as terras frias, escuras, remotas e inóspitas de onde ele vem, geralmente chamadas simplesmente "O Norte".
O Dark Lord tem sempre uma fortaleza no Norte, de onde várias raças maléficas imunes ao frio, geralmente mortos-vivos, saem para estragar a vida aos homens, elfos e anões das terras quentes do sul.

Este trope, e a sua associação entre o Norte, o frio e a morte, está presente na nossa cultura de muitas maneiras
- na banda desenhada 30 Days of Night, os vampiros são frios e imunes ao frio, como em imensas outras representações de vampiros
- nos livros do Tolkien, o Deus do Mal, Morgoth, tem fortalezas no norte gelado, Angband e Utumno.
- no jogo de computador Warcraft III/World of War os principais vilões são a Frozen Legion, um exército de mortos-vivos que vivem no Norte Gelado
- no universo do Game of Thrones o Norte é particularmente importante, sendo de onde vem os White Walkers, que reanimam os corpos dos mortos para destruir o mundo


Utumno, fortaleza de Morgoth

E muitos outros exemplos de que de certeza se lembram.

Porquê?

Porque é que esta associação entre o Mal e o Norte Gelado é tão transversal à nossa cultura?

Em primeiro lugar há a associação imediata entre o calor de um corpo vivo e o frio de um corpo morto.
Depois, como também já expliquei, a Civilização nasceu à custa da Agricultura, e nessas sociedades agrícolas primitivas a Primavera e o Verão correspondiam a períodos de produtividade, colheita e abundância, aos quais se seguiam os meses de frio do Outono e do Inverno nos quais havia escuridão, frio, fome, doença e morte.

Também importante, e intimamente relacionado com isso, é o facto de que essas sociedades agrícolas primitivas só podiam desenvolver-se em locais particularmente férteis onde conseguissem fazer crescer as suas plantas. Isso implica necessariamente que as primeiras civilizações surgiriam sobretudo para o sul, onde é mais quente, e próximo da água.
E de facto os primeiros lugares onde a agricultura foi inventada foram exactamente o Egipto, a Mesopotâmia e a Suméria, todas ali no quentinho do sul, próximo do mediterrâneo


Durante os séculos que se seguiram o padrão foi-se mantendo sempre mais ou menos o mesmo, com as sociedades humanas mais avançadas a localizarem-se à volta do Mediterrâneo, onde é quentinho e há muita água.


De todas estas civilizações mediterrânicas os Gregos e os Romanos foram quem mais influenciou a nossa cultura ocidental actual. Muitas coisas que hoje consideramos as bases da nossa sociedade vieram dos gregos e dos romanos, desde a democracia, legislação que trata todos os cidadãos de forma igual, a filosofia que deu origem à ciência moderna, a arquitectura e a engenharia civil, tácticas militares e a ideia de um exército profissional, segurança e saúde pública, tribunais, aqueductos, até mesmo a narrativa das suas obras literárias, poéticas e teatrais.

Os Romanos, no seu melhor, eram a civilização mais sofisticada e avançada que o mundo já tinha visto na história da humanidade.
É seguro dizer que aquilo que hoje consideramos a nossa sociedade foi largamente herdado dos Romanos e dos Gregos. Não seria de espantar então, que também tivéssemos herdado os seus medos.

E de que é que os Romanos (mais recentes que os Gregos), tinham medo?

Dos Bárbaros.


Os Bárbaros, para os Romanos e para os Gregos, eram os povos não-civilizados, que não falavam latim, e que sistematicamente e regularmente atacavam para roubar, pilhar, violar e matar.
Foram um dos principais problemas do Império Romano Ocidental, e um dos principais factores que levaram à sua queda.

E de onde é que vinham os Bárbaros?


Vinham do Norte!

Eram os Germanos, os Alamanos, os Visigodos, os Gauleses, os Anglos, os Saxões, os Francos, os Pictos, os Godos, os Lombardos, uma multitude interminável de tribos bárbaras, sujas, feias, selvagens, indisciplinadas que vinham do norte da Europa, aterrorizar os Romanos vestidos de toga, acabados de sair de um banho público.

Durante séculos, o Império Romano foi atacado por esta ameaça bárbara que vinha do Norte Gelado, e esse medo ficou profundamente enraízado nessa cultura que nós herdámos!

Mesmo depois da queda de Roma, quase cinco séculos depois, quando Carlos Magno é coroado o primeiro Santo Imperador Romano e consegue trazer alguma forma de civilização de volta à Europa, volta a ter problemas com tribos bárbaras vindas do norte, desta vez os Eslavos, os Pictos, os Danos e outros Vikings que tais.

As civilizações do Sul sempre tiveram medo das Ameaças do Norte. Quando os pais romanos queriam meter medo aos filhos, falavam-lhe do Papão vindo do Norte que os ia matar se eles não comessem a sopa.

Mas como é que o Papão dos Romanos se transformou disto:


Nisto:


4 comentários:

  1. o papão dos romanos era mais fixe antes da transformação!

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    1. Também acho que sim. Mas ficaram os católicos a tomar conta dele e estragaram tudo!

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    2. Também acho que sim. Mas ficaram os católicos a tomar conta dele e estragaram tudo!

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    3. Os catolicos nao se sabem divertir...

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