Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

sábado, 27 de junho de 2015

Agents of S.H.I.E.L.D. - sobre a interconectividade da Marvel

Finalmente vou cumprir uma promessa que fiz há quase um ano, e vou falar sobre a série Agents of S.H.I.E.L.D. (AoS)
Este post contém SPOILERS, mas todos os que sejam referentes a coisas que tenham acontecido este ano, nomeadamente a segunda metade da segunda temporada de AoS e do Age of Ultron, vão estar devidamente identificados.


Em primeiro lugar há algo a ser dito acerca do amor dos fâs pelas suas personagens preferidas.

Contrariamente ao que se possa pensar, uma das personagens centrais da série, e provavelmente a mais reconhecível, o Phil Coulson, não surge em nenhuma banda-desenhada, sendo uma criação exclusivamente dos filmes.


À semelhança Harley Quinn, que entretanto se tornou uma das personagens mais populares do universo DC depois de ter criada para a da série animada e que à custa da devoção e interesse dos fâs, foi adoptada como personagem oficial das bandas desenhadas, também a personagem do Phil Coulson aparece pela primeira vez no Iron Man (2008) tendo sido criado apenas para fazer uma piada acerca do nome demasiado comprido da S.H.I.E.L.D.


No entanto, a personagem tornou-se tão popular entre os fâs, que voltou a merecer pequenas aparições nos filmes subsequentes da MCU, depois em algumas curtas-metragens, até que tem o seu principal papel no grande ecrân no filme Avengers (2012).
A personagem dá a volta completa quando aparece como personagem oficial nas bandas desenhadas.


Eu podia escrever um artigo inteiro sobre a personagem do Phil Coulson, mas vou limitar-me a explicar que a personagem é adorável porque consegue transmitir verdadeiramente a ideia de um super-agente-espião de uma organização ultra-secreta que começou a sua carreira com um trabalho de secretária a arquivar papéis. 
O Phil Coulson é a personagem normal num mundo de super-heróis, e a perspectiva dele é um reflexo à nossa, fazendo dele um substituto da audência. Também de forma semelhante à sua audiência, o Phil Coulson é um geek e admira os super-heróis, coleccionando cromos vintage do Capitão América.
Dito isso é particularmente interessante notar que, de acordo com o estilo habitual do Joss Whedon, esta personagem querida e adorada dos fâs, e substituto deles, morre tragicamente durante o Avengers (2012), sendo que é a sua morte que cataliza os heróis a lutarem contra todas as probabilidades.


Ele fica melhor, no entanto, e mesmo a tempo de ser uma das personagens centrais na série spin-off do MCU Agents of S.H.I.E.L.D., escrita pelo Joss Whedon, Jeb Whedon (o seu irmão, e quem depois fica a escrever a série a tempo inteiro) e por Maurissa Tancharoen e produzida pela Marvel Televison, em 2013.


A série segue as aventuras de um grupo de AoS que iniciam uma missão ainda mais secreta de identificar e conter indivíduos ou artefactos com super-poderes que vão surgindo.
A história evolui inicialmente com um vilão diferente a cada episódio que tem de ser identificado e por vezes recrutado pela equipa.
A equipa é composta por vários elementos com características de personalidade vincadas e com funções diferentes e bem definidas (o líder, o soldado, os cientistas, o hacker), que passam o seu tempo numa nave a interagirem enquanto resolvem um problema diferente todas as semanas.
Se parece familiar, é porque o Joss Whedon gosta de pegar nas ferramentas que funcionam e dar-lhes uso.



Esta estrutura narrativa inicial de Firefly misturado com Missão Impossível misturado com X-Files é engraçada, e é divertido vermos como todas estas personagens interagem entre si, habitualmente em diálogos tipicamente Whedonescos. Resulta como uma série de aventuras de ficção-científica.
A estética e o tom estão muito bem conseguidos, e transmitem muito bem a sensação de estarmos a ver os bastidores do trabalho de campo de uma agência de espiões que tem de lidar diariamente com os problemas de um mundo no qual Super-Heróis se tornaram a norma.
Há imensos gadgets e brinquedos científicos e é satisfatório vê-los a serem usados por pessoas normais para derrotar super-vilões.

Mas para ser perfeitamente honesto não há nada de realmente novo ou excitante acerca dos primeiros episódios. São algo monótonos e os estereótipos das personagens já muito batidos e eu quase que desisti da série nos primeiros 5 episódios.

A história progride mostrando o crescimento das personagens, bem como a sua tentativa de descobrir como é que o Phil Coulson regressou dos mortos, e o mistério à volta de outra personagem central, a hacker rebelde Skye, adensa-se. Mais uma vez, engraçado mas nada que nos choque.

Mas depois aconteceu uma coisa inesperada.


Estreia o Thor the Dark World (2013), que se passa parcialmente na Terra, e na semana a seguir à estreia a equipa do AoS está lá a limpar a porcaria que foi deixada para trás.
Ou seja, os eventos de um filme do Universo Marvel influenciaram a continuidade narrativa da série que ocorre dentro do Universo Marvel.

Dito desta maneira pode não parecer nada de especial, mas a verdade é que teria sido muito mais simples deixar a narrativa do AoS prosseguir linearmente sem alterações, ignorando os eventos do Dark World.
Mas ao invés disso esses eventos do filme não só têm repercussões no mundo das personagens da série, como as personagens falam directamente deles e lidam com as consequências deles.

Isto eleva a série acima da sua premissa inicial, criando agora um precedente que deixa o espectador curioso por saber de que outras formas a história da série vai ser alterada pelos eventos do filme.
Mais do que isto, permite que a série funcione como uma transição natural entre os filmes, faznedo a ponte narrativa entre os eventos de todos.
As dificuldades lógicas de escrita inerentes a este processo, de manter vários filmes e séries (porque entretanto o Daredevil e a Agent Carter também já têm as suas próprias relações e conecções com os filmes) coerentes entre si, são imensas.
O facto de que até agora não hajam incongruências ou contradições notáveis, é impressionante.
O facto de que estão a planear mais séries e muitos mais filmes, todos com este mesmo nível de interconectividade, desafia a compreensão, e é absolutamente inédito na história do cinema.


O que isto permite, e a série AoS foi pioneira neste aspecto, é dar vida ao universo construído pelos filmes marvel. Não são só histórias ou aventuras soltas, não são sequer histórias numa narrativa linear. São várias narrativas autónomas que se vão influenciando mutuamente de uma forma orgânica.
A narrativa nunca está parada, as consequências ramificam-se sempre e vão acabar em lugares inesperados.
Isto faz com que haja sempre alguma coisa nova para ver no Universo Marvel, com que haja sempre alguma coisa com que ficar entusiasmado, e torna toda a experiência de seguir estes filmes e estas séries exponencialmente mais divertida.


Este fenómeno torna-se extremamente óbvio com os eventos que ocorrem no filme Captain America: The Winter Soldier.
Neste filme descobrimos que a Hydra estava a infiltrar a SHIELD desde o início, e tenta destruir o mundo mais uma vez. O Captain America, com a ajuda do Nick Fury, desmantelam a SHIELD para destruir a Hydra.

A série AoS durante esta fase deixa para trás a sua estrutura episódica de vilão da semana e muda de tom, transformando-se numa verdadeira série de espionagem cuja narrativa tem continuidade directa de episódio para episódio.
Durante imenso tempo, vários episódios antes, já andávamos a ver indícios de que a Hydra estava a infiltrar a SHIELD, e subitamente, quando isso é revelado no filme, todas as personagens que antes andavam a comportar-se de maneira estranha são revelados como agentes infiltrados da Hydra, e tudo passa subitamente a fazer sentido.
Portanto a série AoS não só lida com as consequências de eventos que acontecem nos filmes, mas também tem capacidade para os indiciar, aludir e introduzir antes do filme estrear.

Ao passo que a primeira metade da primeira temporada de AoS é monótona e esquecível, a segunda metade é extremamente entusiasmente e cheia de suspense. É impressionante a rapidez e fluidez com que a história se adapta aos eventos do filme, integrando-os sem dificuldade na sua própria narrativa.


A segunda temporada é ainda melhor que a primeira.

Se durante a primeira temporada tivemos o estabelecimento das personagens, apenas para as vermos crescer e serem alteradas pela descoberta de que a Hydra estava a infiltrar a SHIELD, a segunda temporada mostra essas mesmas personagens a tentarem lidar com o desmoronar da SHIELD e a tentarem adaptar-se a uma nova organização e novas funções.
As várias traições e reajustamentos relacionais entre as personagens são muito bem explorados, e temos sempre a sensação de que estas personagens não param de crescer.
Isto é particularmente notório na dupla Fitz e Simmons, que é cómica na mesma medida que se torna trágica.

A segunda temporada volta a focar-se mais no aspecto de identificação de super-vilões e das influências alienígenas que estarão envolvidas na ressurreição do Phil Coulson e da Skye.
No fim da primeira metade da Segunda Temporada temos contacto pela primeira vez com os Terrigen Crystals, artefactos alienígenas Kree capazes de induzir mutações e conferir super-poderes aos que estejam predispostos a isso.
Os que não estão predispostos a isso, a vida corre-lhes menos bem.


É com a introdução destes cristais que o AoS volta a trocar as voltas aos espectadores. Não há nada nos filmes até esse momento que tenha alguma vez falado de Terrigen Crystals, à excepção da menção dos Krees no Guardians of the Galaxy.
O AoS neste momento introduz elementos completamente novos, e deixa de ser apenas um mero spin-off no qual vemos consequências dos filmes para ser assumidamente uma série que avança activamente a narrativa de todo o Universo Marvel.


---------- CAUTION: HERE BE SPOILERS -----------


A segunda metade da segunda temporada foi, até agora, a minha preferida, e, a meu ver, a mais bem escrita.

Temos tudo o que poderíamos querer nesta temporada: mais traições e espionagens, pessoas com super-poderes estranhos, super-vilões muito carismáticos, mais super-poderes, mais tie-ins com os filmes. É fantástico!

Descobrimos que afinal existem restos da SHIELD que ficaram activos, e que não gostam particularmente da nova direcção em que o Phil Coulson está a levar a SHIELD dele.
Até os próprios agentes do Phil Coulson acham que ele está estranho e mais secretivo do que o habitual (o que é dizer muito para o director da maior agência de espionagem do mundo), sobretudo desde que ele está particularlmente interessado na implementação do Theta Protocol.

Durante imensos episódios vêmo-lo a dirigir recursos para o Theta Protocol, e há várias sugestões de que o Phil Coulson possa ser um traidor.

No entanto descobrimos que na realidade a SHIELD do Phil Coulson estava na realidade a tentar localizar a Staff do Loki e os restos da Hydra que continuam a fazer investigação científica, nomeadamente num par de gémeos com poderes.

O Theta Protocol é na realidade o Helicarrier que surge como um Deus Ex-Machina no fim do Avengers: Age of Ultron, e que o Phil Coulson andava a preparar em segredo.


Isto vem cimentar ainda mais a série AoS como um fio condutor da narrativa entre os filmes, servindo por vezes de prequela televisiva.

A série volta a recuperar um pouco do seu interesse do Vilão da Semana com a exploração de uma personagem que continuava um pouco envolvida em mistério: Calvin Zabo, aka Mr Hyde.
Calvin Zabo é o pai da Skye, e é um cientista que tentou refazer uma espécie de super-soldier serum que lhe dá força e durabilidade sobre-humanas com o efeito secundário de o deixar um pouco doido.
Apesar disso a motivação da personagem nunca deixa de ser o amor pela sua filha e o desejo de a proteger, o que torna a personagem bastante trágica.
É interpretado de forma brilhante pelo veterano Kyle MacLachlan, que o consegue tornar um dos vilões mais interessantes do Universo Marvel, ficando só atrás do Kingpin.


Calvin Zabo na sua busca por vingança e incansável tentativa de se reunir à sua filha, acaba por reunir outros vilões com super-poderes que têm de ser também derrotados um por um.
Isto volta a puxar a série firmemente para o universo de banda-desenhada, saindo um pouco do estilo higiénico da ficção científica e de espionagem, e isso traz imensa cor e divertimento à série


Finelmante, temos toda o plot envolvendo a Skye, a sua mãe e os Terrigen Crystals.
Percebemos rapidamente que a Sky ganhou super-poderes à custa da sua exposição aos cristais, e é contactada por outros indivíduos com super-poderes que a querem recrutar para a sua causa.

Explicam-lhe que os Terrigen Crystals são um catalisador para o potencial genético escondido dentro de alguns seres humanos, criado pelos Kree quando estavam a tentar gerar super-soldados para as suas guerras espaciais.
A mãe da Skye é a lider deste grupo que se intitulam os Inhumans.

Qualquer pessoa que ande a prestar aos filmes da Phase III, repara rapidamente que lá para 2018 há um filme chamado Inhumans.


Muito certamente esse filme vai conseguir escapar-se a toda necessidade de estabelecer as origens das personagens porque, como já perceberam, a origem das personagens vai ser explicada durante a série AoS.

No fim da segunda temporada do AoS a Skye desliga-se do grupo violento em que estava inserida, consegue derrotá-lo com a ajuda dos outros agentes da SHIELD e, com a ajuda do Phil Coulson, prepara-se para iniciar a busca e recrutamento de outros Inhumans que andem espalhados pelo mundo.

Portanto a série que começou com o recrutamento da hacker Skye para a equipa dos AoS com o intuito de identificar pessoas com super-poderes, agora acaba com o recrutamento da Inhuman Sky com o intuito de identificar e recrutar outros Inhumans.
Essencialmente vamos ter uma equipa de super-heróis como o Avengers, mas direccionados a black-ops e espionagem.
Isso faz-me feliz.

Portanto, concluindo e resumindo, a série AoS não é a melhor coisa de sempre, tem falhas, tem os seus pontos fracos, mas as sua personagens são muito interessantes e crescem imenso durante a série, as aventuras são divertidas e tem o interesse acrescido de ir fazendo a ponte narrativa entre todos estes filmes.

Ah, e a cena final do monolito.

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terça-feira, 23 de junho de 2015

Ontem fiz uma consulta

Ontem fiz uma consulta.

Estava a fazer a intersubstituição da tarde. Já tinha tido saúdes infantis durante a manhã toda, durante a primeira metade da tarde vi diabéticos de uma médica que está a faltar.
Por volta das 17:00 comecei a intersubstituição. Nada de especial, as coisas do costume, febres, dores de garganta, diarreia.

Olho para a sala de espera, e o próximo doente é um homem de 37 anos.
Acho isto estranho. Habitualmente os homens de entre os 30 e os 40 anos são saudáveis, não vêm à consulta. Fui ver e de facto este homem não vinha ao médico já há uns 2 anos.
Começo a pensar o que é que ele poderá ter, e não me vem nada imediatamente à cabeça.

Crianças com menos de 10 anos sei que provavelmente vêm com febre, ou dores de garganta ou diarreia; mulheres com mais de 45 vêm por dores nas costas ou nos joelhos e crises de tensão alta.
Agora, homens com 37 anos? Não me vem nada à cabeça imediatamente.

Chamo-o e ele entra pelo gabinete com uma criança de 3 anos ao colo. Fico subitamente confuso. Será que vi mal e era uma criança que estava marcada? Será que confundi 37 com 3? Não seria a primeira vez.
Mas não, ele desculpa-se dizendo que não tinha onde deixar o filho e por isso teve de o trazer.

Sentam-se os dois nas cadeiras em frente à minha secretária, e eu pergunto-lhe o que é que o trouxe hoje à consulta.
Os olhos dele enchem-se subitamente de lágrimas, leva a mão à cara para conter o choro, e consegue espremer por entre dentes "Dr, estou cheio de ansiedade".

Eu olho para ele, olho para a criança. O miúdo está assustado. Por algum motivo quando ele entrou eu tive a impressão que era o miúdo estava doente.

"Vamos pôr o seu filho a brincar lá fora com as enfermeiras para conversarmos mais à vontade" digo-lhe eu, e ele parece acalmar ligeiramnte. 

No entanto, afinal, não encontrei enfermeiras, e então vou roubar uns brinquedos ao gabinete de outra médica, e o miúdo fica distraído a brincar num canto do meu gabinete.

"Explique-me lá o que é que se está a passar" pergunto eu.

Ele volta a encher -se de lágrimas, hesita uns momentos, e deita cá para fora, num único fôlego, sem pontuação
"Estou com imensa pressão no trabalho ando cansadíssimo não tenho um fim de semana há dois meses só ontem é que consegui descansar os meus pais foram operados tenho imensa ansiedade a minha mulher está a ficar chateada comigo sinto que estou a falhar com o meu filho"

Continua a chorar para as mãos, consegue engolir as emoções, e parece que volta atrás, como se se sentisse embaraçado por ter dito em voz alta o que sentia, como se quisesse que o problema fosse outro e acrescenta "também ando a sentir umas dores nas costas, no corpo..."

"Dores em picadas?"

"Não, parecem os músculos contraídos. Doem-me quando estou deitado na cama"

"Você não anda a dormir nada pois não?"

Ele abana a cabeça, concordando.

"Passa a noite toda a rebolar, não é?"

Ele volta a concordar.

"Anda a sentir-se triste? Com acessos de choro?"

Ele concorda

"Já falou disto com a sua mulher?"

Ele diz que não, explica que ela está fora do país durante uns dias, ele está sozinho a tomar conta do filho porque os pais idosos foram operados e não o podem ajudar.

"Anda com falta de ar, com o coração a bater muito?"

Ele olha para mim, com lágrimas nos olhos, assustadissimo, perdido, a conter o pânico.

A primeira coisa que lhe digo é
"Você não está doente, não há nada de errado com o seu corpo. Você não está deprimido, não tem nenhuma patologia"
"Você está a trabalhar demais. Ouça, qualquer pessoa que passe um mês sem fins de semana começa a passar-se um bocadinho. Qualquer pessoa na sua situação ia sentir o mesmo"
"Em segundo lugar, você não está a falhar. Você está a fazer os possíveis e os impossíveis para que tudo corra bem, para cuidar da sua família, e ao que parece está a conseguir. Falhar seria não vir aqui pedir-me ajuda"

À medida que lhe explico estas coisas, a cara dele abre-se em espanto, como se nunca lhe tivesse passado pela cabeça que estas ideias pudessem sequer existir. Ele estava há tanto tempo sob ansiedade e tensão, há tanto tempo a sentir culpa, que tinha perdido completamente a perspectiva da sua situação.

"Agora, a primeira coisa que vai acontecer, é que eu vou dar-lhe baixa. Baixa de 12 dias, que é o máximo que eu lhe posso dar inicialmente, senão até lhe dava mais. Vai para casa descansar.
"Sabe aqueles planos que você andava a adiar para quando tivesse tempo? Aquele restaurante aonde queria ir quando tivesse tempo? É agora. Agora você vai fazer essas coisas, vai ao restaurante, vai divertir-se.
"Vai pegar na mulher e no filho e vão fazer um fim de semana prolongado a algum sítio, para se distraírem.

"Depois, vou-lhe dar aqui um Diazepam 5mg. Dá sono e é relaxante muscular, vai tomá-lo à noite antes de ir dormir durante uma semana. Vai tomando durante o dia, em SOS, quando começar a sentir o coração a bater mais depressa"

"Finalmente, quero que faça exercício todos os dias. Agora está bom tempo, todas as manhãs vai dar uma corrida, enquanto ainda está fresquinho, vai ver que o resto do dia lhe corre logo bem"

Enquanto eu explicava estas coisas a cara dele foi-se abrindo num sorriso, em alívio. Eu vi sair-lhe o peso desesperante dos ombros em câmara lenta.
Parecia que eu lhe tinha salvo a vida, que lhe tinha dado o Santo Graal.

Ele levantou-se, apertou-me a mão, deu a mão ao filho e foi-se embora a brincar com ele.


Eu fiquei exausto. Sem fôlego.
Poucas outras consultas na minha curta carreira tinham sido tão emocionalmente desgastantes como esta.
O que pode parecer estranho, porque nem era uma situação medicamente complicada, ou um diagnóstico difícil, e, contrariamente ao que acontece habitualmente, eu até consegui ajudar o homem.

E no entanto no fim desta consulta senti-me como se tivesse feito 50 flexões.
Estava exausto emocionalmente.

Porque empatizei com ele. 
Porque se não tivesse empatia com este homem, se calhar tinha-o medicado só com uma coisa para dormir ou tinha-o mandado fazer exames ao coração ou às costas.
Porque tenho de empatizar com os doentes, porque é a forma mais eficaz de os fazer sentirem-se melhor. 
De os curar.

Fiquei a sentir-me cansado e fragilizado durante o resto das outras 6 consultas que ainda fiz nesse dia. Acabei a consulta às 19:50, consegui apanhar um comboio para casa às 20:24, cheguei a casa um pouco antes das 21:00.


Todos os dias sinto que precisava que alguém me desse baixa. 
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domingo, 21 de junho de 2015

I am a Thoughtful Guy




Finalmente aconteceu.
Encontrei um vídeo na internet que me retrata perfeitamente.
Isto sou eu!

Dos brilhantes Rhett & Link.
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Tubos com Dentes

Começou tudo com as células obviamente.

E podia perfeitamente ter ficado por aí. Os procariotas são definitivamente bem sucedidos e servem mais do que adequadamente como amostra de vida.

Quando pensamos em vida extra-terrestre geralmente pensamos em homenzinhos verdes, mas na realidade encontrarmos alguma coisa semelhante a células já seria estrondoso.
As células são pouco mais do que robots proteicos com comportamentos que podem reduzir-se essencialmente em "digestão" e "divisão", e isso é mais do que suficiente, na vasta maioria dos casos.

Choanoflagelado - nós há 900 milhões de anos
Mas havia vantagens de sobrevivência nos grupos, e algumas células eucarióticas, chamadas choanoflagelados juntaram-se umas às outras para protecção e para partilharem recursos. Há várias teorias que explicam como isto terá acontecido.
Uma teoria é a de que depois de as células se dividirem, em vez de se separarem e irem cada uma à sua vida, continuaram juntas em aglomerados, em colónias. 


Ora, o problema de um aglomerado de células coloniais a crescerem em conjunto é que, quanto maior  forem mais difícil é para as células no centro terem acesso aos recursos à superfície. Uma colónia deste tipo de células tem dificuldade em crescer em tamanho, quanto mais fazer qualquer coisa com um aspecto mais interessante.

A melhor solução é em vez de crescer concentricamente, crescer com a forma de um tubo.


Esta solução permite que todas as células tenham acesso rápido à superfície e aos nutrientes, e tem a vantagem adicional de permitir que algumas células se diferenciem em funções específicas, como movimento, digestão ou reprodução.

A aplicação mais simples desta solução é a humilde esponja, cujos primeiros fósseis datam de há cerca de 710-635 milhões de anos


podia passar o resto do post só a pôr fotos de esponjas psicadélicas




E pronto. 
Temos o primeiro animal. 
Um tubo de células que come coisas.

E depois de termos esta ideia na cabeça é difícil voltar a olhar para qualquer animal e não o ver como simplesmente uma variação deste esquema básico.
É um modelo tão tão simples, que até a inovação de ter uma abertura em ambas as pontas do tubo, (essencialmente uma boca e um ânus) foi uma grande coisa!
Entra comida por uma ponta, saem fezes pela outra. O que acontece pelo meio do tubo é secundário.

É só juntar peças, como um lego evolutivo
Tudo o resto a partir daqui representa apenas acrescentos e adaptações deste modelo básico.

Há cerca de 542 milhões de anos ocorre a Explosão do Câmbrico, durante a qual este esquema básico de tubo que come coisas vai passar por quase todas as variações possíveis de formas e apêndices que o ajudem a comer e a reproduzir-se mais eficientemente (as mesmas regras das nossas primeiras células). Durante este período surgem a maioria dos principais Filos actualmente existentes, e algumas outras variações bizarras que nunca resultaram em nada.




Há cerca de 447-443 milhões de anos, acontece a Extinção do Ordoviciano-Siluriano, na qual por causa de actividade vulcânica ou raios cósmicos cerca de 60-70% das espécies se extinguiram, e só as formas mais eficientes é que sobreviveram. Nada como uma boa extinção massiva para acelerar a evolução, uma espécie de crivo geológico que só deixa passar as formas de vida mais adaptáveis.

A partir daqui vou atalhar um bocadinho até onde nos interessa chegar, porque senão nunca mais daqui saímos.

Evoluem os deuterostómios invertebrados, como as lesmas do mar, que são mesmo só tubos que comem coisas, e as estrelas do mar  que são tubos curtos com muitos braços à volta que comem coisas.


Evoluem os animais Cordados, que têm a particularidade de ter um cordão nervoso dorsal, e que eventualmente evoluem para os primeiros peixes e tubarões. Estes não são mais do que o desenho original do tubo, mas agora com dentes e barbatanas para se poder mover melhor no meio aquático onde evoluiu. São tubos com muitos dentes que nadam e comem coisas.
Os tubarões existem com a mesma forma que têm hoje desde há 420 milhões de anos. Os dinossauros só apareceram há 165 milhões de anos.



Os tubos nadadores eventualmente percebem que há mais comida para comer e espaço para se reproduzirem em terra, e então transformam as barbatanas em pernas, e sobem para a terra, onde podem passar a ser tubos com pernas que comem coisas.

E ficaram grandes, os tubos com dentes e pernas.



Um dos tubos com pernas que comem coisas com mais sucesso são, por exemplo, os crocodilos. Querem um exemplo melhor do que um tubo com pernas e dentes do que um crocodilo?
Os crocodilos foram contemporâneos de uma data de dinossauros, e continuam a existir hoje, relativamente inalterados morfologicamente.
A isso eu chamo um modelo de sucesso.




Os lagartões tubóides eventualmente também se extinguem porque levam com um calhau celestial na cabeça, e então os tubos podem usar uns truques que ainda não tinham experimentado até essa altura.
Uns arranjam penas, os outros arranjam pêlos.








Os tubos evoluem, mas continuam a ser tubos. Ganham olhos, unhas, dentes, pernas, asas, caudas, mãos, dedos, uma data de coisas diferentes, mas continuam sempre a ser só tubos.
Entra comida por um lado, fezes pelo outro, pelo meio acontecem outras coisas.

Nós, por exemplo, somos um tubo por onde entra comida por uma ponta, fezes pela outra, e pelo meio inventámos a matemática.

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segunda-feira, 15 de junho de 2015

Homofobia e o Papão

Cada vez que vejo que há pessoas genuinamente homofóbicas fico razoavelmente divertido.

É divertido de se testemunhar no mesmo sentido que era engraçado ver o racismo casual e semi-inocente da minha avó de 80 anos.
É um artefacto, um fóssil vivo de idades passadas. Já ninguém fala como a minha avó falava dos pretos
É chocante e antropologicamente fascinante ao mesmo tempo.



É isso que sinto em relação a pessoas homofóbicas. São estúpidas, e eu tenho sempre uma curiosidade mórbida em ver até onde chega a estupidez das pessoas.
Dou-lhes trela, não os critico. É uma homofobia quasi-inocente, com poucas consequências.
É como ver macacos a tirarem macacos do nariz.

Mas é fácil esquecer, ao olhar para os risíveis homofóbicos mongolóides, que o comportamento deles é motivado pelo Papão.
Porque o papão aparentemente não gosta que andem por aí tipos másculos a acariciarem-se mutuamente. É feio!

Costuma surgir a discussão (não faço sequer ideia como é que ainda há pessoas que sentem que esta é uma discussão que vale a pena ter) sobre se se nasce homossexual ou se a homossexualidade é uma escolha.



Porque era chato admitir que se pode nascer homossexual, porque nesse caso era o próprio Papão que estava a criar homossexuais, e o Papão nunca se pode contradizer.

Não, a homossexualidade, é uma escolha, balbuciam eles. Claramente aquele homem decidiu introduzir o seu pénis no esfíncter anal daquele outro homem. Foi uma escolha, uma decisão propositada e provavelmente premeditada.

As pessoas que têm dois dedos de testa replicam que não é sequer esse o cerne da discussão. Da mesma maneira que uma pessoa nasce a gostar da genitália do sexo oposto, há quem se interesse por genitália parecida à sua. É intrínseco e imutável.


Mas este argumento tem uma falha. Parte de uma suposição errada, que o deixa vácuo de sentido.
Este argumento assume que os homofóbicos são mais movidos pela estupidez do que pelo Papão.
Assume que os atrasados mentais não conseguiram perceber que os homossexuais já nascem daquela maneira e que por isso presumem que qualquer coisa em contrário só pode partir de uma escolha.

Não não. Os homofóbicos não têm problemas com que alguém nasça homossexual, isso é de somenos importância.

Mas que decidam agir de acordo com essa orientação sexual? Ah isso é que o Papão proibiu especificamente!


Os homofóbicos sabem que os homossexuais não podem simplesmente escolher ter interesses diferentes. Sabem-no perfeitamente. Mas também sabem que os homossexuais podem escolher fingir, e reprimir-se e abafar-se e não deixar transparecer que são quem são.

Qualquer comportamento é uma escolha.
Eu escolho levantar-me e ir trabalhar e ser simpático. É um comportamento que eu detesto, que remédio tenho eu senão comportar-me assim.

Os homofóbicos não se importam realmente que para os homossexuais seja doloroso reprimir-se. Ou se calhar até se importam.
Mas mais importante que isso é não desobedecer ao Papão!
Se é preciso sofrer para não desobedecer ao Papão, então que assim seja.

Os homofóbicos dirão aos homossexuais para se esconderem, mostram-lhes que independentemente do que sintam, não podem é demonstrar a sua homossexualidade, porque isso é mau.


E os homossexuais de facto decidem expressar-se naturalmente.
Decidem não se reprimir e escolhem ser quem são.

É uma escolha, e é essa escolha que irrita os homofóbicos.
Porque é uma escolha a favor do próprio e não do Papão.
Porque é uma escolha que vai directamente contra a vontade do Papão.

E isso é mau. É perigoso.

É por isso que os homofóbicos não são só estúpidos, também são más pessoas.
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quarta-feira, 10 de junho de 2015

Space Walk - Lemon Jelly


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terça-feira, 9 de junho de 2015

2001: A Space Odyssey

Já me perguntaram, mais do que uma vez, afinal porque é que o 2001 é tão bom.
Eu fico chocado todas as vezes.
Não é óbvio? Não é imediatamente aparente que é um dos melhores filmes alguma vez feitos?

Então se é tão óbvio porque é que tenho sempre dificuldade em explicar porquê?

Porque esqueço-me que de facto o 2001 é um filme extremamente invulgar. É normal ver o filme e achar que é uma seca confusa. Foi o que eu achei da primeira vez que o vi.
O filme foge à estrutura narrativa habitual e tem poucas das pistas e características que estamos habituados a prestar atenção para julgar um filme.

Portanto vou tentar explicar porque é que o filme é tão bom.


Primeiro é preciso perceber o que era a ficção científica nos anos '60, quando o filme estreou.

Na televisão passavam o Star Trek (1966), o Lost in Space (1965) e o Thunderbirds (1965).


Basicamente, ninguém levava a Ficção Científica a sério.

E de repente vem o Stanley Kubrick, que por essa altura já era um autor e realizador conceituado, que toda a gente acharia ser superior à parvoíce de alienígenas com testas de borracha que era a ficção científica.
E o Kubrick pega no género da ficção científica, por quem ninguém dava nada, e constrói nele uma das obras-primas do cinema, que ainda hoje temos dificuldade em alcançar.

Uma pedrada no charco é uma metáfora demasiado fraquinha para o que aquilo foi.
Foi mais do que uma bomba, foi um salto quântico para uma forma de arte mais elevada (esta pode bem ser a frase mais snob que eu já escrevi na minha vida).

O 2001 não foi só uma inovação, não foi um passo em frente ou sequer uma progressão lógica do que se fazia na altura.
O 2001 foi um atalho para o melhor que se conseguia fazer em ficção cientifica sem passar por todos os passos intermédios. Esses passos intermédios foram todos os filmes que entretanto tem vindo a ser feitos.

O filme não só era muito sofisticado para o seu tempo, continua a ser muito sofisticado para o NOSSO tempo.
O que por si só explica porque é que há dificuldade em entendê-lo.

Para começar há algo a ser dito acerca da história.



Contrariamente ao que se pensa habitualmente, o filme não é uma adaptação do livro 2001: a Space Odysssey.

Na realidade o Stanley Kubrick e o Arthur C. Clarke juntaram-se e colaboraram na escrita do livro e do filme um do outro ao mesmo tempo. Na realidade a história é escrita pelos dois em conjunto, e depois um deles pegou na história e transformou-a em livro e o outro pegou nela e transformou-a em filme.

A magnitude da narrativa e o tamanho das ideias envolvidas na história é espantosa. É uma história sobre o início da inteligência nos humanos, sobre exploração espacial, inteligências artificiais, sobre vida extra-terrestre inimaginavelmente avançada e viagens inter-dimensionais.

São ideias muito complexas, com imenso pano para mangas. Qualquer uma delas seria difícil de explorar de forma precisa e interessante. E no entanto a história consegue pegar em todas esta ideias e misturá-las e concretizá-las numa narrativa que nunca é forçada ou desconexa.

Se essa narrativa fosse explicada de forma mais clássica, à custa de exposição ou diálogos, seria uma salganhada de texto denso e verborreico.
Isso tornaria o filme extremamente cerebral, exigindo imensa atenção aos diálogos.



Em vez disso a história é contada de forma extremamente minimalista, com pouquíssima exposição. O conteúdo da narrativa é suportado pelas imagens.
Há poucos diálogos, os planos de câmara e os enquadramentos são mantidos durante imenso tempo, o ritmo do filme respira lentamente, sem pressa para avançar.
O 2001 é sobretudo um filme sensorial. Os longos planos e o ritmo lento existem para nos integrar naquele mundo, para nos hipnotizar e para sentirmos o filme.

A quase ausência de diálogos permite prestar atenção a outras coisas, e se conseguirmos deixar de intelectualizar o filme e simplesmente deixar-nos levar pelo tom e beleza do filme, conseguimos ter uma experiência emocional igualmente complexa.

E o Stanley Kubrick consegue isto com um filme de ficção Científica.

E que ficção científica!




Basta dizer que o 2001 continua a ser uma das representações mais fidedignas e cientificamente correctas de exploração e tecnologia espacial.
Tanto do ponto de vista prático (não haver som no espaço, a maneira como a ausência de gravidade funciona), como do ponto de vista de futurismo (ao prever que tipo de tecnologia seria necessária) o 2001 é irrepreensível. Aparece sistematicamente em primeiro lugar em listas de filmes cientificamente correctos, à frente de filmes mais modernos como o Gravity e o Interstellar.

Na maior parte das vezes os filmes escolhem favorecer a qualidade narrativa em detrimento da precisão científica, e na maior parte das vezes essa é a decisão mais correcta.


Mas estamos a falar do Stanley Kubrick.
E o Kubrick consegue pegar numa cena de 5 minutos com uma nave espacial a alunar muito lentamente, como na realidade aconteceria, e preenche a cena com música clássica, criando uma sequência quase onírica.
E consegue pegar numa nave espacial com um anel a rodar para simular gravidade e consegue usar esse espaço dificílimo para filmar e construir sequências surreais e atmosféricas.



Isto vai de encontro ao que eu estava a dizer anteriormente acerca do 2001 ser um filme sensorial e de emoções. O Kubrick conta uma história de astronautas atrás de alienígenas traídos por uma inteligência artificial através de uma narrativa fluida, cheia de sequências musicais, coloridas quase oníricas que fazem um excelente trabalho de transmitir uma sensação emocional.
À medida que a narrativa progride, a tensão dramática, o suspense e a ameaça são aumentadas por este ambiente surreal, quase psicadélico.


O facto de que de metade do filme para a frente só há duas personagens, o Dave e o H.A.L. também é significativo.
Dave, o astronauta humano com quem o espectador se identifica, vê-se sozinho contra o H.A.L., uma inteligência artificial homicida. O isolamento de Dave, que vê os seus companheiros a serem mortos um a um e a lutar sozinho contra forças ameaçadoramente frias, cria no espectador uma sensação de insegurança e desesperança que são ecoadas pelo silêncio e aparente calma com que o conflito se desenrola.



A viagem de Dave (e do espectador) passa não só por lutar contra H.A.L. mas também aventurar-se no absoluto desconhecido do monólito, e entrar numa experiência que é simultâneamente psicadélica e aterrorizante.
A famosa sequência de quase 10 minutos de cores e luzes é o culminar de toda a experiência onírica e psicadélica que é o filme. Não esquecer que o filme estreia no pico do movimento hippie, conhecido pela utilização de substâncias alteradoras da mente.


No fim, a experiência emocional e sensitiva de medo, ameaça, insegurança, beleza, maravilhamento e até terror, é aquela que habitualmente se atribui à exploração espacial e que a maioria dos filmes de ficção científica tenta transmitir aos seus espectadores.



O 2001: A Space Odyssey consegue criar nos seus espectadores a experiência de ficção científica quase perfeita recorrendo às melhores ferramentas possíveis para criar directamente essas emoções.
Essas ferramentas são sobretudo visuais, sensoriais, atmosféricas e de ritmo, coisas muito mais emocionais do que as habituais ferramentas de escrita, diálogo e exposição da maioria dos filmes de ficção científica, que acabam por ser muito mais cerebrais.

Dessa maneira o 2001, para além de contar uma história de ficção científica extremamente complexa e com ideias enormes, consegue fazê-lo de forma a enfatizar e intensificar a experiência emocional da mesma.

E é por isso que o 2001 é um dos melhores filmes de ficção científica.

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