Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

sábado, 25 de outubro de 2014

Pikachu + acid = Progressive Rock


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Flora Saprófita


Hoje de forma aleatória (e se formos a ver bem o que é que não é aleatório?) deparei-me mais uma vez com o conceito de flora saprófita.

O que é que isto significa?

Por definição saprófitos são micro-organismos que se alimentam de matéria orgânica morta. Ou seja são bactérias, fungos, líchens, etc, que se alimentam dos restos orgânicos de tudo o resto que esteve vivo.
Ou seja, são seres vivos microscópicos que comem os restos proteicos nutritivos de outras coisas vivas. Estão no fundo do fundo do fundo da cadeia alimentar. Tudo o que é vivo e usa carbono, nitrogénio, oxigénio e hidrogénio (ou seja, tudo o que é vivo), acaba por ver estes seus elementos a serem reciclados por saprófitos.

E o que são estes saprófitos? Há muito a dizer acerca deles. Mesmo muito.
Para simplificar vamos falar só de bactérias.

Resumidamente:
Há 3 900 000 000 (três mil e novecentos milhões) anos surgem os primeiros seres vivos sob a forma de células.
Há 3 500 000 000 (três mil e quinhentos milhões) anos surge a primeira importante divisão evolutiva, os archea, e, portanto, o último antecessor universal.
Há 2 500 000 000 (dois mil e quinhentos milhões) anos as placas tectónicas formam-se.
Há 1 850 000 000 (mil e oitocentos e cinquenta milhões) anos surge a segunda importante divisão evolutiva, com a separação das células procarióticas (vulgo bactérias) e das células eucarióticas (que compõem tudo aquilo que é vida e que conseguimos ver a olho nu)

Portanto mais de 2 mil milhões de anos entre o surgimento da vida e o aparecimento dos três grandes grupos de vida que existem actualmente: archaea, procariota, eucariota.

Nós somos Eucariota. Nós e tudo o resto... ursos, baleias, pássaros, répteis, peixes, estrelas do mar, lesmas, flores, relva, pinheiros, algas, cogumelos, corais, amebas. Muita coisa, toda com a mesma estrutura celular básica.

Contra nós estão os procariotas, as bactérias. (os archaea têm, no geral, uma bioquímica tão diferente que mal interagem connosco).

O que é que fazem os procariotas? Comem nutrientes. Que nutrientes? Não são esquisitos, portanto qualquer nutriente.

Nota importante: nós somos feitos de nutrientes.
Os procariotas comem-nos a nós.

Não é nada de pessoal. Os procariotas estão a comer-nos (a nós e aos nossos antecessores eucariotas) desde que existimos.
E estão por todo o lado. Ok, sim, é verdade, são pequeninos, e nós (os eucariotas) pesamos mais do que eles. Mas eles são mais. E estão por todo o lado. E sobrevivem em quase todo o lado. E estão cá há mais tempo do que nós. A comer-nos.

Quantos há? Estima-se que existam 5 x 10^30 procariotas no planeta (500000000000000000000000000000). Onde estão? Desde a Estratosfera até rochas a quilómetros de profundidade.
Cada um de nós transporta cerca de 100 triliões de bactérias no nosso intestino. 10 vezes mais do que células que nos pertencem (que tenham o nosso código genético).

O que é que estas bactérias todas fazem? Comem-nos.
São a nossa flora saprófita. São a multidão de bactérias que nos coloniza no canal de parto da nossa mãe (por ingestão de fluidos vaginais) e que nos vai decompor quando morrermos, comendo-nos de dentro para fora.

Estarmos vivos é uma vitória temporária enquanto as bactérias não nos comem. Qualquer deslize do nosso sistema imunitário e elas começam a comer-nos prematuramente.

Porque é que acham que os antibióticos são uma grande coisa? Só em 1928, com o Fleming a descobrir a penicilina, se começaram a usar sistematicamente substâncias que combatiam as bactérias.
Só por acaso a penicilina vem de um fungo, outro saprófita.

Os procariotas começaram a comer eucariotas desde que estes surgiram há 1850 milhões de anos. Ainda não pararam. Vão comer-nos até desaparecermos todos. Até ao fim.

Os últimos seres vivos da terra vão ser archaea.
Huh? Aposto que estavam à espera que dissesse procariotas.  Não não, vão ser os archaea, porque esses filhos da puta são quase impossíveis de matar. Não, a sério, eles comem pedras e sobrevivem no espaço.
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terça-feira, 21 de outubro de 2014

Cocaína

''Tenho falta de um medicamento que me dê força de manhã... Para fazer a minha vida... ''
e que medicamentos faz?
''Estes''
hum
''Tomo estes de manhã, estes à tarde, e estes, à noite...''
sim, e como se tem sentido?
''Não me sinto bem. Todos estes medicamentos me fazem mal.''
hum hum... e como é que acha que eu posso ajudar?
''Não sei bem... Trouxe aqui a lista dos medicamentos que tomo, para mostrar. E gostava que escolhesse aqueles que me estão a fazer bem, e aqueles que me estão a fazer mal... Para eu saber...''
hum, consigo começar a imaginar o que possa ter levado alguém a iniciar alguns destes...
''O que eu precisava mesmo, é de um que me desse força de manhã. Para eu fazer a minha vida''
hum hum...
''e não posso deixar de fazer os meus normais...''
hum hum....
''Então o que acha...?''
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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Collected ramblings of a madman

''Isto é algo que as pessoas precisam de saber. Alucinar não é ver gafanhotos gigantes a passearem de mão dada com elefantes cor de rosa. É muito mais pessoal. É perceber que o teu nariz é a coisa mais estranha da tua cara. É interpretar alguma coisa que esteve à tua frente a vida toda, hoje está totalmente diferente. Ver que os teus dedos são curtos demais em relação à memória que tens deles, que a explicação e os porquê se esvai entre eles. Alguma coisa que sentes. Não é necessariamente alguma coisa que vês.

Dizes que alucinar é uma percepção sem objecto, que me refiro distorções de percepção/pensamento. Digo-te que essa divisão é artificial, as experiências sensoriais são integrais com a percepção. Porque têm apenas um observador.

The shadows flicker a lot more than usual, for a sun that has been shining all day. A luz à qual observas as tuas emoções também é diferente. Mais viva e carregada. 'Sentes' as tuas emoções como se elas não te pertencessem. Porque sentir alegria/elação/euforia, altera a maneira como te vês a ti próprio e o mundo que te rodeia. Se alguma coisa te tirar do centro dessa relação, consegues aperceber-te das mudanças subtis que as emoções operam na tua percepção de estímulos.
All the dials and levers working. Sentes-te como se tivesses sido alexitímico a vida toda. E também que apenas começaste a entender isto. Por isso não percas demasiado tempo com a luz. É apenas a luz da mesa de cabeceira, numa noite estranha, em que acordaste desgrenhado, fora de ti.
Levanta-te e anda. Anda ver o nascer do sol. Os raios laranjas a rasgas e a colorir as nuvens, os cirros coloridos de tons violáceos.

Dizes que falo de cortinas de fumo, de crenças sobrevalorizadas. Nada palpável. Mas não estou a fingir que sei do que estou a falar. Tento descrever impressões subjectivas. Só quero chamar à atenção que a periferia das tuas percepções encaixa de maneira cada vez mais aberrante na realidade. Um termo cuja substância se dilui numa poça, de onde nasce um arco íris. Se fechares os olhos, as cores aparecem.
E isto é só o princípio.''

''Consigo perceber o pânico de alguém que vê a sua cara pela primeira vez ao espelho, como se pelos olhos de outra pessoa. Produz um sentimento análogo a ouvir a minha voz numa gravação. Mas mais bizarro. Tenho que fazer a barba... Nós somos feios em comparação com a ideia que temos de nós próprios, metida atrás dos nossos olhos.''

''Quebra de continuidade. Ao longe o outono faz as árvores restolharem. O vento desenha caminhos por entre os arbustos e as ervas rasteiras, os gatos brincam uns com os outros num recanto. Subitamente percebes que tens dificuldade em evocar palavras. Linguagem.  Não é que as palavras não venham, se encurraladas, é só que se tornaram desnecessárias. As emoções são suficientes para interpretar o mundo à tua volta, com toda a complexidade e reactividade que a linguagem permite.
Não penso, mas sinto. Será que existi naquele momento? Será que interessa?''
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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

New Adult: os romances Harlequim com um twist

Eu gosto de ler. Sempre gostei de ler, mas como tudo na vida este gosto alterou-se com os anos. Se no inicio li histórias adequadas para a idade, na faculdade tornei-me uma snob relativamente à leitura. Eu não lia qualquer coisa. Eu lia histórias com qualidade comprovadamente superior. Eu lia autores existencialistas e críticos sociais e era uma deprimida… Yup. Quando lês demasiado Dostoyevsky nasce um desespero em relação ao mundo, uma apatia continuada e uma incapacidade inexplicável de perceber que existe uma possibilidade de mudança. Ou simplesmente a minha depressão maravilhosa adorava banhar-se nas histórias de personagens com finais miseráveis.

Após estes anos gloriosos de leituras profundas que moldaram a minha personalidade de maneira incontornável, a verdade é que a depressão passou. E não, não deixei de gostar de ler clássicos ou livros de qualidade, mas passei a apreciar (e a culpar-me muito por isso) ler livros com finais felizes, romances que me façam sorrir. Descobri todo um mundo de romances contemporâneos, históricos, fantasia, steampunk, paranormal e distopia. Tornei-me numa leitora relativamente aleatória. Sim, continuo a seguir a lista dos “1001 livros a ler antes de morrer”, mas sou muito mais comedida. E como sou fan do Goodreads descobri um género extraordinário: New Adult.

Resumidamente, este género é o somatório de todos os clichés do Young Adult (típica personagens principais decalcadas do “Twilight”, insta-love, triângulos amorosos, dinâmica amor-ódio, declaração amorosa dramática, rapaz possessivo e anulação da personagem feminina em prol do “amor”), mas com descrições de cenas sexuais desde os primeiros capítulos da história. As descrições sexuais fariam corar as escritoras do “Harlequim e Bianca” que via a minha mãe ler nas velhas praias de Quarteira. Assim tão pormenorizadas, com tudo para todos os gostos. É só uma questão de procurar. Deixem-me apenas avisar, comparativamente com o que é descrito nos livros não há homem que se compare. A quantidade e qualidade sexual descrita mata qualquer desejo pelo vosso parceiro atual… Just saying…

E nem é componente sexual exagerada sem nexo que me faz realmente confusão nestes livros. O que me preocupa e não me faz sentido é ter lido partes de livros em que as violações são justificadas pelas autoras. Em que a violência verbal e física é demonstrada como sendo uma prova de carinho e amor. E isto arrepia-me. Desculpem, provavelmente estou a ser moralista, mas ler um livro em que o raciocínio da personagem feminina após ser violada é “Ele utilizou o meu corpo sem a minha permissão, mas é tão bonito e musculado”, dá-me náuseas. Ler um livro em que tudo aquilo que ainda hoje se luta em termos de igualdade de géneros é jogado para o lixo e a realidade é distorcida e apresentada a jovens como sendo algo aceitável e até mesmo um objetivo a alcançar diz que não avançámos muito como seres humanos.


E porque é que me interesso? Bom, primeiro, porque estudos têm demonstrado um aumento da violência entre casais jovens. Segundo porque eu trabalho também com jovens e noto uma aceitação das vicissitudes da vida como se fosse algo a aspirar. Terceiro, porque sou um ser humano do sexo feminino que tem um imenso orgulho do trabalho que tantas mulheres tiveram para que eu hoje pudesse ter os direitos que tenho. Quarto, porque violações e violência simplesmente não são aceitáveis… Quinto, porque o Ricardo e o Gui estavam fartos de me chatear a dizer que não contribuía em nada para este blog, e assim calo-os por mais um ano. :P
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terça-feira, 14 de outubro de 2014

O Futuro é Biónico

"We do what we must, because we can"

É o centro da nossa progressão científica. Fazemos as coisas porque estão ao nosso alcance, porque podemos. O que quer que seja possível vai necessariamente acontecer.

É uma espécie de corolário da lei de Murphy, ou a lei de Murphy é um corolário desta, não sei, não interessa, adiante.

Case in point.

De certeza que não começou aqui, mas é um ponto tão bom como qualquer um para ilustrar o que quero dizer:


É uma prótese vitoriana. Tem 150 anos. Alguém que não tinha um braço arranjou um braço artificial, mecânico. Transformou-se numa junção de homem e máquina. Porque era possível.

A tecnologia das próteses avançou muito desde então...



A versatilidade e fluidez destes movimentos é espantosa. O futuro é isto.

O futuro também é Olimpíadas só para pessoas com próteses biónicas.


Obviamente que tinham de ser Olimpíadas separadas, seria injusto pôr pessoas amputadas a competirem contra pessoas sãs. Porque as pessoas sãs estão em desvantagem. A discussão já existe sobre se os atletas com próteses têm uma vantagem injusta sobre os atletas sãos, mas é uma discussão que não vai durar muito tempo. Em pouco tempo a tecnologia vai determinar uma vantagem clara.

Desde há anos que os recordes estabelecidos nas Olimpíadas são feitos por margens cada vez menores. O que faz sentido. Há limites para o que o corpo humano, estruturalmente, consegue atingir. Mas recorrendo a próteses, subitamente há todo um novo campo de recordes que podem ser batidos! Por pessoas que são ciborgues!

E o que é que vai acontecer nestas Olimpíadas? As empresas de biotecnologia vão poder mostrar os seus protótipos mais avançados, vão competir entre si para terem melhores resultados, provavelmente recorrendo a modelos mais potentes e radicais.

Entretanto os japoneses querem Olimpíadas só para robots.

Isto significa que num futuro próximo, provavelmente ainda durante as nossas vidas, veremos Olimpíadas nas quais robots competem contra ciborgues!

ISSO eu via na televisão!
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quinta-feira, 9 de outubro de 2014

A história que me contaram sobre o Papão (com detalhes sórdidos...)

Fomos quem fomos. O Passado não pode ser alterado. Mas se alguma vez, aquilo que fomos nos permitiu sentir felicidade em algum momento, teve necessariamente que ter sido influenciado por aspectos positivos. Algumas coisas boas aconteceram. Podemos ter passado por meses de preocupações, a sentir a perseguição da vida, que, se a dada altura percebemos que não temos nada real a perseguir-nos, sentimos-nos bem. Equilibrados com nós próprios.

Para este equilíbrio ser possível, foi relevante descobrir que Papão não existe. Apesar de não nos podermos dar ao luxo de parar de cavar buracos, sabemos que não existe nenhuma autoridade divina, nenhum caminho sagrado. Ninguém nos pode vai mandar para um poço em chamas, com monstros, criados pelo papão durante a sua adolescência, cujo único propósito de existência é torturarem aqueles de nós que, em vida, desobedecerem ao papão. E isto portanto, seria eternamente. Para sempre.

O papão bom que vem no livro a seguir - uma sequela chamada novo testamento, está a lutar contra o mal (as asneiras que fez no primeiro livro), mas não conseguiu desfazer isso da tortura eterna, para malta mal comportada. O que foi uma pena. Por isso teríamos que continuar a cavar buracos. Isto, apesar do papão ser um gajo tão porreiro, que mandou para a terra o filho dele. O Papão engravidou uma menina, mas com toques mágicos, nada de andar aí a pôr a pila em monhés do médio oriente. O Papão ainda apanhava uma comichão na virilha, e o marido da senhora podia ficar incomodado. Mal o marido da senhora soube a notícia da divina concepção, pensou logo que devia começar a ter relações com a esposa com mais regularidade, para pelo menos ter uma hipótese. Mas não se atreveu a tocar na Maria até o puto nascer... Eu percebo... Um alien põe qualquer coisa na barriga da tua mulher, a última coisa que queres é meter lá a pila. Sei lá o que pode acontecer. Até podes levar uma dentada. José pagou a cobardia, porque assim, o pénis do filho do Papão, foi o primeiro a atravessar a vagina da esposa, sem recurso a poderes mágicos, claro. E é assim que tu vês como o Papão é espectacular.

Imagino que o José tivesse ficado preocupado com a perspectiva do Papão agora começar engravidar-lhe a esposa de tempos a tempos. E tendo o Papão poderes mágicos, sabe-se lá a frequência com que lhe conseguia engravidar a esposa. O Papão pode fazer tudo, por isso teria que ser bom na cama e provavelmente seria extra fértil. Bem, mas estou a perder-me...
O nascimento foi importante o suficiente, para 2000 anos depois, em algumas sítios, todas a família se juntarem, para festejar os anos do filho do papão.

Depois, ele passou a adolescência a dizer-nos para não nos chatear-mos tanto uns com os outros, e para dividirmos o que temos irmãmente. Não existirem tão poucas pessoas com todos os recursos, e a maior parte a passar fome. O filho do papão do Papão armou-se em sindicalista, e na altura a vida podia correr muito mal aos sindicalistas... o papão do primeiro livro já tinha escrito no plano divino  que era melhor o filho dele levar um castigo valente, tipo pregarem-no a uns paus de madeira. O papão da sequela depois arrependeu-se e ressuscitou o filho, mas mandou-o lá de volta para o condomínio privado onde o papão mora, não ficou cá com a gente, e foi uma pena. O condomínio privado onde tuuudo é perfeito. E no entretanto, o filho dele não tem dito muito. O que é uma pena. Está, no entanto, previsto que o filho do papão vai voltar para por ordem nesta merda. So look busy.


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segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Coisas Horríveis IV - um pedido de desculpas

Ok, pronto, parem com os e-mails, a minha caixa de correio já não aguenta.

Peço desculpa pelo que escrevi, claramente ultrapassei uma linha e ofendi muitas pessoas.
Sensibilidades foram magoadas, susceptibilidades foram injuriadas, moralidades foram ultrajadas. Toda a gente tem uma opinião, e há outras opiniões diferentes. É preciso respeitá-las, não é?

Não tenho o direito de dizer coisas que vão magoar os sentimentos das outras pessoas, por muito estúpidos que eu ache que sejam esses sentimentos. Quer dizer, se andássemos por aí a dizer coisas desagradáveis uns aos outros só porque sim, onde é que isto ia parar?

E eu compreendo que dizer este tipo de coisas acerca de crianças é sempre inapropriado, sobretudo quando estamos a falar de crianças deficientes. É um assunto sensível eu compreendo.

Porque quer dizer, se começamos a dizer tudo o que nos vem à cabeça, onde é que isto vai parar? Corremos o risco de que as outras pessoas ouçam as nossas ideias e se ofendam! E magoamos os sentimentos delas!!!

Mesmo que estas pessoas adiram com demasiada convicção a ideas e crenças abstractas, largamente arbitrárias acerca do que é apropriado ou não. São as ideias delas, não tenho o direito de vir brincar com isso ou mostrar como são ridículas. Essas pessoas têm o seu direito.

E quer dizer, sobretudo quando no mesmo contexto falo de cães. Envolver cães E crianças deficientes? O que é que eu pensava? Que as pessoas iam simplesmente reconhecer o exagero absurdista pelo que é e pôr a ideia de lado de tão parva e desprovida de sentido que é depois de darem uma gargalhada?

Claro que não, as pessoas têm as suas crenças e têm o direito a essas crenças, e eu não tenho o direito de sair do meu caminho e gozar com essas crenças, por muito superficiais que me pareçam. É preciso respeitinho.


Mesmo que tenham sido só palavras, sem nenhum impacto real ou mensurável, ofensivas apenas para quem se importa, e essas pessoas possam simplesmente não olhar para o que eu escrevo.
Não tenho o direito de dizer determinadas coisas, há claramente coisas que são demais. Toda a gente sabe isso, e eu devia sabê-lo, também.

Acho que o pior foi mesmo a comparação entre os cães e as crianças deficientes. Isso é errado. Não se pode deixar acontecer. As pessoas iam ofender-se.

E nem posso dizer que não sabia. Claro que sabia, foi por isso que o fiz. 
Diverte-me o facto de isto ofender as pessoas. Põem-me uma linha à frente e um sinal a dizer "Não ultrapassar esta linha" e eu tenho o impulso de pôr o dedo do outro lado da linha.

Que as pessoas se sintam ultrajadas e pessoalmente magoadas quando pego em ideias e brinco com as atribuições quasi-sagradas que elas fazem delas, e as mexo e remexo com o único propósito de chegar a uma frase que tenha o maior impacto e a maior ofensividade possível, especificamente dirigida para essas atribuições arbitrárias acerca do que se pode dizer ou não.
Diverte-me.

É preocupante a quantidade de tempo e energia que dispendo a pensar sobre este tipo de coisas...

Acho que o que ofendeu mais as pessoas até foi a inversão da comparação, ou seja, que de igual forma as crianças deficientes seriam comparáveis a cães.

Compreendo quando as pessoas se sintam atacadas de uma forma subtil e sub-reptícia, quando eu com uma dúzia de palavras as faço considerar noções horríveis, mesmo que estas sejam concretamente observáveis. Sobretudo se forem concretamente observáveis.

Quer dizer, eu não digo explicitamente que babarem-se, cagarem por todo o lado e ficarmos felizes quando aprendem truques são alguns dos termos nos quais são comparáveis.
Eu não digo isto explicitamente, mas o facto de levantar a comparação faz com que as pessoas pensem sozinhas nestes pontos de comparação, e isso fá-las sentirem-se mal.
Sobretudo mal porque não fui eu que o disse, só pus a primeira ideia dentro da cabeça delas, e elas chegaram lá sozinhas.

Portanto o que as ofendeu mais foi o que elas pensaram sozinhas. Eu só chamei a atenção para o facto de que essas ideias já lá estavam, potencialmente. É sobretudo isso que as chateia, a dificuldade em aceitar que parte da responsabilidade dessas ideias é delas.


Há ideias que não deviam ser expressas, mesmo que sejam ridículas, porque podem ofender alguém! E não podemos permitir que as pessoas se ofendam, pois não?
Isso justifica que algumas ideias sejam censuradas. Há ideias que merecem ser censuradas, é isso?

Mas compreendo que se zanguem comigo.

Havia uma linha e eu ultrapassei-a.

O Papão não gosta.

Mea culpa.

Vou tentar ser mais simpático no futuro.
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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A Clockwork Orange

Li este livro recentemente. E vi o filme.

As minhas críticas de cinema são tão simples como a minha bagagem cinematográfica.
Gostei do filme. 
E agora quero falar de coisas absolutamente tangenciais. 

No prefácio o autor lamentava o facto de a versão americana não incluir o último capítulo. 
Também não retratado no filme, neste capítulo da versão inglesa, o protagonista retoma a vida que levava, de violência gratuita e absoluto hedonismo, até encontrar um dos quatro vândalos com que confraternizava no início. 

Pete. Pete tinha uma noiva e estava prestes a casar. Ia ter um filho. E este facto tem o impacto catártico em Alex, por que esperamos o livro todo. Ele imagina-se a procurar uma noiva e a ter um filho. Um pequeno Alex. E subitamente abandona o novo grupo de vândalos, no bar onde tudo começou. Para se deitar cedo.

What's it going to be, eh? 

Alex têm dimensão de crescimento pessoal na versão inglesa. Que é o propósito da história. Será que o ser humano é passível de mudança, ou somos apenas matéria orgânica com propriedades mecânicas? Mais precisamente, será que somos reabilitáveis?

A questão é filosófica. E como tantas outras, sem resposta. Parece-me que ficamos reféns de conceitos que não reflectem a realidade completa. Será que mudamos? Claro que mudamos! Mudamos para nos adaptar à realidade. Será que somos matéria orgânica com propriedades mecânicas, num ambiente fundamentalmente determinista? Somos roldanas no mesmo sentido que uma paramécia desliza numa gota de água à procura de proteínas? The jury is still out on that one, mas é cada vez mais inevitável responder que sim. 

Somos laranjas mecânicas, ofendidas com a perspectiva de não termos escolha, senão sermos o que somos. Por isso caímos nos mesmos hábitos, nos mesmos erros. 

A resposta não é satisfatória, porque a pergunta não faz sentido. Temos tanta capacidade de compreender o nosso livre arbítrio, como a paramécia tem de cogitar sobre porque é que necessita de proteínas. Quem perceber, de maneira fundamental, porque gosta do que gosta, porque faz o que faz, porque erra da maneira que erra, e souber definir os seus comportamentos de acordo com a sua vontade, estará perto da omnisciência. Isto partindo do princípio que define precisamente qual a sua vontade, integrando (não sei como) as emoções. Que, por definição, não dependem de aspectos volitivos...
O condicionamento pavloviano não chega, e o condicionamento operante pouco mais é que tentativa-erro.

Não conseguimos mudar a nossa maneira de ser como gostaríamos, mas conseguimos fazer alguma coisa, que não sabemos explicar bem. Talvez seja só desejar com muita força. Talvez seja só uma ilusão.

Seja como for, é uma ilusão que não conseguimos abandonar. Por algum motivo estúpido, a nossa parte emocional fica menos ansiosa, se acreditarmos que a parte cognitiva controla os nossos comportamentos, o nosso futuro. 

Independentemente da conclusão a que chegarem, não me mandem emails a dizer que: ''a vida é o que acontece enquanto estás ocupado a fazer planos.'' ou ''se quiseres fazer deus rir, conta-lhe os teus planos!''. Consigo perceber que estas manifestações fazem parte da vossa natureza lamechas. Mas a minha parte emocional deseja que se sentem em cima de um pionés.
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