Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Não encontro nenhum título para isto que não seja estúpido

porque vou escrever acerca de programas de culinária.

"Programas de culinária?!" bradam os leitores,

"eu venho ao Pataniscas Satânicas para ler pequenos textos intelectuais, que não sejam pretensiosos mas que tenham um humor mordaz e acutilante, bem como insights inteligentes acerca da condição humana e do estado actual do mundo, sem nunca perder vista da cultura popular, e esperar, esperar sempre, que um dia possa ser abençoado com a História dos Macacos!" gritam, quase em lágrimas e com um ar de júbilo misturado com tristeza, as nossas multidões de leitores.

"e agora vem o Gui, essa fonte de inspiração e informação relevante, que nunca falha em demonstrar a sua superioridade cultural e intelectual sem no entanto parecer snob ou elitista e sem sequer deixar transparecer que na realidade pensa que a vasta maioria das pessoas tem o QI igual ao número que calça, falar-nos de programas de culinária?!" clamam as hordas de leitores.

Calma, caros leitores.

Eu gosto de cozinhar. Sempre gostei. Gosto imenso de comida, de comer e de fazer comida. Dá-me gosto cozinhar para os amigos.

E, sempre, desde que me lembro, que gosto de programas de culinária.

Lembro-me de ter 6 anos, e de ver na televisão, na RTP1, nos dias de semana de manhã, um programa de culinária que dava, e de adorar aquilo.
Se calhar aquilo já apelava à minha mente obsessiva, que procurava ardentemente coisas com uma estrutura própria e reconhecível.

Um programa de culinária é como um bom filme de assaltos. Sabemos à partida que vai ser satisfatório.
Vi vários ao longo dos anos, sendo que a maioria eram no já defunto People and Arts.
Havia um gajo muito homossexual, um britânico muito divertido e snob.
Eram programas de culinária que viviam tanto à custa das receitas em si, como da personalidade e entusiasmo do cozinheiro que as preparava.

O Jamie Oliver parece um rabeta enconado, e eu digo isto por oposição a uma raging queen.

Mas havia um que eu adorava realmente, que era o Two Fat Ladies.
Um programa em que duas mulheres muito gordas e divertidas cozinhavam durante meia hora e gozavam uma com a outra.
Era extremamente divertido e satisfatório.



Infelizmente acabou porque uma delas teve cancro do pulmão e morreu.

Mas aonde eu estou a tentar chegar é que com o advento do Youtube, o género do programa de culinária com cozinheiros interessantes revitalizou-se, com uma data de gente a tentar fazer coisas progressivamente mais estranhas.

Começo por apresentar o Epic Meal Time.
Neste, uma data de gajos extremamente épicos e bad-ass, levam a culinária a níveis calóricos nunca antes imaginados, e tentam basicamente superar cada episódio anterior.



Nunca mais vão olhar para bacon da mesma maneira.

Depois temos um dos meus recentes preferidos, o Regular Ordinary Swedish Meal Time, que me diverte particularmente, não porque é apresentado por um sueco extremamente zangado, mas porque sugere que, contrariamente ao Epic Meal Time que apresenta refeições normais de uma forma épica, todas as refeições suecas já são tão épicas que não vale a pena chamar a atenção para isso.


É apresentado em sweglish, e copiosas quantidades de maionese são ingeridas.

Depois outro muito engradaçado é o My Drunk Kitchen, no qual uma rapariga muito geek (e toda a gente sabe que as raparigas geeks são as melhores raparigas do mundo) se embebeda e cozinha. Hilarity ensues, porque é sempre divertido ver pessoas bêbedas a tentarem fazer tarefas complexas.



Depois há o Vegan Black Metal Chef.



Garanto-vos que nunca mais vão ouvir Black Metal sem ouvir no meio dos grunhidos alguém a recitar uma receita vegan.

...

Acabei de fazer um post sobre culinária... god save us all...
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sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Brokeback Twilight

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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

America - Simon and Garfunkel, 1968


Sempre considerei o Paul Simon como sendo um dos grandes compositores da música americana contemporânea. Poucos outros compositores conseguiram simultâneamente compor uma tão grande quantidade de músicas de tal qualidade, com melodias verdadeiramente bonitas, bem como tocar temáticas invulgares, introspectivas e filosóficas.

Recentemente tenho ouvido com alguma frequência a canção America, que era a 3ª faixa do album Bookends de 1968, da dupla Simon and Garfunkel

O Bookends pretendia ser um album conceptual, na peugada de albuns como o Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band, que seguisse o percurso da vida, da infância até à velhice.

America é uma canção sobre a adolescência. Em 1968 a américa estava a passar a fase do Flower Power, o movimento hippie começava a dar mostras de ter falhado, 1969 seria o ano mais sangrento da guerra do Vietnam, as drogas começavam a perder a imagem de emancipadoras da mente para começarem a matar celebridades, e toda a sensação de optimismo que se tinha gerado no início dos anos '60 começava a dissipar-se.
Os jovens já não se reviam no surf-rock, já não dançavam ao som do Chuck Berry, do Buddy Holly ou do Ritchie Valens, já não queriam o Let me Hold Your Hand dos Beatles.
Os adolescentes sentiam-se perdidos numa América que começava a perder outra vez a identidade, com uma verdadeira quebra de gerações por causa da guerra do Vietnam, o Movimento dos Direitos Civis, o início de uma tentativa de massificação comercial.

America é uma canção acerca de adolescentes desiludidos e perdidos numa América que perdeu o rumo, e que um dia simplesmente saem de casa, metem-se num autocarro e vão em busca de si mesmos e da nação que lhes ensinaram que era a melhor do mundo.

Abre com um murmurar da melodia essencial da música, quase como overture, e depois entram os acordes de guitarra,

A canção junta imagens e diálogos dos dois adolescentes, o narrador e a sua companheira Kathy, com uma melodia suave e simples, que apenas acompanha a descrição/narrativa.

Começa com uma proposta "Let us be lovers we'll marry our fortunes together", que não implica que sejam realmente amantes ou que se casem, mas simplesmente que se vão amar e que vão unir os seus destinos durante algum tempo. O narrador admite que tem algum dinheiro, compram cigarros e símbolos americanos ("Mrs. Wagners pies"), só aquilo que precisam, e "walked off to look for America".

Viajam ao longo da América, de autocarro ou à boleia, parando fugazmente em vários lugares. Começam em Saginaw, no Estado do Michigan, à beira dos grandes lagos, a norte de Chicago, e aparentemente estão a apanhar um mítico autocarro Greyhound em Pittsburgh, no estado da Pensilvânia, a leste de Michigan. Quem quer que já tenha feito viagens longas, com muitas paragens, reconhece a memória mais sensitiva do que concreta dos lugares por onde passou "Michigan seems like a dream to me now".

Os jovens divertem-se com as figuras que encontram no autocarro, as pessoas de quem vieram realmente à procura, os outros Americanos perdidos. "She said the man in the gabardine suit was a spy; I said "Be careful his bowtie is really a camera"

As conversas de pessoas que já não sabem o que dizer uma à outra, que começam a afastar-se, a isolar-se, a sentirem-se sozinhas, que é na realidade a única forma de se encontrarem mesmo, "Toss me a cigarette, I think there's one in my raincoat"; "We smoked the last one an hour ago" e uma imagem lindíssima de uma lua a nascer sobre aquilo que eu imagino sejam infindáveis campos de cultivo da típica abundância americana "And the moon rose over an open field".

No fim o narrador verbaliza o seu sofrimento. Mas não o faz à sua companheira, que provavelmente está perdida ela mesma. O narrador verbaliza e sintetiza o seu sofrimento para si mesmo, sabe que a sua companheira não o ouve, e fá-lo com o que parece ser quase surpresa.
"Kathy, I'm lost," I said, though I knew she was sleeping
I'm empty and aching and I don't know why
Olha para fora, conta a imensidade de carros no New Jersey Turnpike. Tendo começado em Michigan, passado por Pennsylvania e estando agora em New Jersey, é seguro assumir que vão em direcção a New York.
Vendo todas as pessoas nos carros da New Jersey Turnpike, o narrador não pode senão concluir que estão todos tão perdidos e desesperados como ele, e que, como ele, todos eles continuam à procura da América.
Nesta altura, a canção deixa o tom suave e calmo que tinha antes, e toma um tom magnânimo, quase um hino à juventude e à busca de identidade, com coros de vozes a entoar o melhor grito de guerra que podiam ter na altura: "All gone to look for America!".



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quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Leitura de Agosto 2011


Anna Karenina está escrita num estilo realista, fazendo Toltoy uma descrição pormenorizada da sociedade citadina e campestre na Rússia durante o séc XIX.
O autor utilizou o recurso aos pensamentos das personagens para dar ênfase ás questões que o preocupavam. Recorre essencialmente a Anna Karerina e Levine,personagens que demonstram estilos de vida e atitudes opostas.
Tanto questões sócio-políticas (o lugar e o papel dos camponeses russos na sociedade, a reforma da educação, e direitos das mulheres), como morais (hipocrisia, a inveja, a fé, fidelidade, família, casamento, sociedade, do progresso, desejo e paixão carnal, e a conexão à terra agrária em contraste com o estilo de vida da cidade)são debatidas ao longo do romance, sendo possível vislumbrar a opinião do autor.

Pessoalmente, achei um livro extremamente bem escrito e muito fácil de ler. As mensagens politico-sociais são claramente divulgadas e defendidas, tendo por base a realidade pré-industrialização russa, onde se assumia a industria e a cidade como sendo os destruidores da vida camponesa. A nível religioso, constitui um romance bastante moralista, no qual transparecem as ideias fundamentais da Igreja católica, que são discutidas até ao fim do livro. "Haverá sempre um castigo "adequado" pelos actos moralmente condenáveis cometidos anteriormente" será talvez a grande mensagem.
Por fim, é fácil constatar que o romance é um pouco auto-biográfico. Levine é sem dúvida a personagem central. Este é utilizado pelo autor para discorrer as suas opiniões e fundamentos das mesmas.

É um must read!
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