Pataniscas Satânicas

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terça-feira, 12 de julho de 2016

Suicídio na Idade Média e Maneiras de o Evitar

São 16:20 de terça feira e ainda não escrevi nada para o Pataniscas? Procurar nos rascunhos por alguma coisa que seja legível? Empilhar dois textos que estão só vagamente relacionados para tentar obter alguma coisa minimamente coerente? (talvez ninguém repare)

Vamos falar sobre isso.


É  razoavelmente compreensível porque é que a maioria dos pecados são considerados pecados.

Não podem andar por aí a dizer (ou a pensar) mal do Papão, é pecado!
Não podem andar por aí a fornicar como vos apetecer, é pecado. Não podem roubar, não podem matar, não se podem tocar, não podem desobedecer, etc, etc.
São coisas práticas, do dia a dia, que desagradam ao Papão,  transgressões que dá jeito proibir, ou comportamentos que convém oprimir.

Mas o suicídio é pecado. Morrer voluntariamente é proibido. É menos óbvio porquê. Não é uma coisa tão prática do dia a dia. E não é um pecadilho qualquer.


A igreja considera o suicídio equivalente ao homicídio. É um pecado mortal, o que significa que ao comete-lo a pessoa estava automaticamente condenada ao Inferno. Os suicidas não têm direito a um enterro religioso, não são ditas palavras bonitas ou conforto dado às suas famílias.

Em 1670, o Rei Louis XIV de França ordenou que o corpo dos suicidas fosse arrastado pelas ruas, de cara para baixo, e depois atirado ao lixo, e todos os seus bens confiscados.

Isto porque a vida de cada um pertence a Deus, e é um Dom de Deus, e que terminar essa vida é uma asserção de domínio sobre algo que pertence a Deus.

Para uma pessoa começar a considerar matar-se é preciso muito sofrimento emocional durante muito tempo. Para que os instintos naturais de auto-protecção sejam superados ao ponto em que a pessoa comece seriamente a achar que morrer é preferível ao que quer que se esteja a passar, é preciso muita coisa.

E, assumidamente, a Idade Média não era um lugar agradável de se viver.


Ao que a religião responde "Se te matares és um pecador. Se propositadamente terminares a tua vida, és uma pessoa má e vais para o inferno sofrer durante toda a eternidade". Reconfortante!
A pessoa deprimida e suicida, para além de tudo o que já está a passar ainda carrega o peso desse pecado e a ameaça infernal que ele carrega.

Porque a vida é um dom de Deus, e o suicídio seria interferir com o plano de Deus. É a derradeira perda de autonomia, a suprema manifestação de controlo literalmente sobre a vida das pessoas.



Obviamente  provavelmente, Deus não existe, e muito menos estas regras têm inspiração divina. Mas o Papão existe, e o Papão tem planos e objectivos muito práticos:

"Estás cansado de cavar buracos o dia todo e não comer mais nada a não ser nabos? Estás deprimido porque não tens liberdades, a tua família está sempre com fome e frio e os nobres fazem de ti o que quiserem? A maioria dos poucos prazeres a que podias ter acesso são pecado?
E queres safar-te disto antes do tempo? Antes de cavares todos os buracos que tens para cavar? E dares ideias às outras pessoas que isso é uma opção viável?

Não, não, não! Se te matares vais parar a um lugar muito mau onde vais sofrer horrores para toda a eternidade! Aceita passivamente as dificuldades todas em vida que não são de todo coisas chatas que nos dá jeito que faças, mas sim desafios divinos para ver se mereces entrar para o paraíso depois de morreres.
Portanto vá, há muitos buracos para cavar e ainda só tens 7 anos. De certeza que consegues cavar buracos durante pelo menos mais uns 20 ou 30 anos antes de morreres de tuberculose"


E mesmo assim havia pessoas que se suicidavam, portanto cavar buracos na idade média devia ser mesmo, mesmo mau.

Se se tivesse a sorte de nascer na nobreza, pronto. Não havia mais preocupação nenhuma. Não importava o que se fizesse, se se era esperto, estúpido, grande, pequeno, gordo, depravado, violento, nada.
Nada disso importava.

Se nascia na Nobreza, não havia mais preocupação nenhuma na vida. As outras pessoas simplesmente ofereciam-lhe os seus bens porque acreditavam que os nobres eram intrinsecamente melhores do que elas. E porque tinham armas e armaduras, também havia isso. Mas isso é uma história para outra altura.


Mas se nascesse no Povo?
Aí era mais complicado. Havia menos opções.
O mais normal era passar o resto da vida a cavar buracos na lama e a comer nabos. E era isso o melhor a que se podia ambicionar. Cavar buracos e comer nabos. Mais nada.

Se fosse grande e bronco e violento, talvez um dos Nobres um dia chegasse e dissesse assim:
"Olha, há uns tipos ali ao lado de quem eu não gosto. Portanto vais pegar aqui neste pedaço de ferro grosseiramente afiado, vais para o meio deles com mais meia-dúzia de tipos broncos como tu, e vais rodar esse ferro afiado muitas vezes. Desde que mates alguns deles antes de eles te matarem a ti, já compensou. Vá, força, coragem! Por Deus e pelo teu Rei, e essas coisas todas, e porque é um escape para a frustração e raiva que acumulaste de anos de cavar buracos".


Mas se fosse do Povo, e tivesse o azar de ser magrinho, fraco e, pior ainda, esperto, então só havia uma opção. Que era ir para padre, ou monge, ou qualquer que fosse a opção regional.


Porque se era fraquinho, ia apanhar uma doença infecciosa qualquer transmitida por pulgas ou ratos. E se tinha dois neurónios, então cavar buracos e comer nabos ia tornar-se aborrecido muito depressa.

Tornarer-se Nobre era uma coisa que simplesmente não acontecia. Portanto ir para o Clero era a única coisa que restava. Não havia outra opção!
Mas mesmo assim não era para qualquer um. Porque eles tinham-se em alta conta, Ah e tal somos os representantes do Papão na Terra.


Era preciso ser-se esperto, e saber ler, e ter paciência para aturar os padres, e sofrer uma data de outras privações e usar os hábitos, e rezar muito.
Mas não envolvia cavar buracos e comer só nabos. De vez em quando havia bifes e açúcar. Era uma vantagem clara, compensava qualquer reza que fosse preciso fazer todos os dias.

E se os outros monges mais velhos achassem que tinham o direito divino de tocar-lhe inapropriadamente de vez em quando? Ainda assim devia compensar.
Cavar buracos todos os dias e comer só nabos é mesmo muito mau. Safar-se disso compensa a sodomização ocasional.


1 comentário:

  1. Tudo o que compense a sodomizacao ocasional deve de facto ser espetacular. Nao é uma coisa que as pessoas digam de uma promocao qualquer!

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