Pataniscas Satânicas

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terça-feira, 24 de maio de 2016

Where to invade next?

O novo documentário de Michael Moore, 'Where to invade next', passou despercebido em Portugal, e acho que não devia. O facto é que o filme foi um flop nas bilheteiras, e isso também dificultou a divulgação.



É verdade é que Michael Moore já não tem a mesma projeção internacional que da altura de Bowling for Columbine, Fahrenheit 9/11 ou Sicko, mas não perdeu nenhuma das qualidades que o tornaram numa referência do documentário. A abordagem bem humorada, a temas sensíveis e fraturantes, a presença do senso comum e por vezes o sentimentalismo são as armas que o realizador sabe manejar com mais habilidade.

O título do filme: ''Where to invade next?'', é uma referência à apetência dos EUA para invadirem países de 3º mundo, para ganhar alguma vantagem política, ou em acesso a recursos naturais. Neste caso, Moore, propõe que os EUA invadam países desenvolvidos, para lhes 'roubar' ideias e políticas que estão bem concebidas e implementadas.

Vejam o Trailer no youtube.


É um filme sobre as coisas positivas que um Americano viu noutras sociedades mundiais, as boas ideias que outras  nações colocaram em prática. Muitas delas foram ideias de Americanos...

O filme visita o sistema prisional da Noruega, onde os guardas prisionais estão investidos na reabilitação dos presos, o que gerou gargalhadas nos EUA, o país com a maior população prisional do mundo (sim, mais do que a China), pena de morte, leis repressivas e prisões privadas.

Também visita a Europa central, onde pergunta a estudantes quanto é que eles se endividaram para pagar a Universidade, sendo os EUA um país sem acesso a educação superior gratuita.


O que me chamou à atenção neste filme, foi que Moore chega mesmo a ''invadir'' Portugal, para falar com dois polícias sobre a nossa política de Toxicodependência.

Se clicarem no link acima, vão ver o realizador falar com dois polícias portugueses, e a confessar-lhes que tem ''a bunch of cocaine in my pocket'', depois de confirmar que eles não o irão prender por posse de estupefacientes. A expressão dos polícias depois de Moore confessar que tem cocaína no bolso é impagável.

Em Portugal, desde há mais de 15 anos que ninguém é preso por consumo de drogas. Desde que essa alteração política foi posta em prática, muito pela influência do director do SICAD (serviço de intervenção nos comportamentos aditivos e dependências), o Dr João Goulão.

Como resultado desta nova política, o consumo de drogas estabilizou, as doenças atribuíveis ao consumo diminuíram e os crimes relacionados com drogas também. Embora o próprio João Goulão admita que é difícil identificar uma relação causal entre os dois factores, em questões sociais e legislativas, isso é sempre verdade.


O que identifica relações causais é o método científico, e nestas coisas não há grupo de controlo, e somos todos cobaias. Por isso é que perguntam a nossa opinião (de 4 em 4 anos), sobre quem queremos no parlamento.

No entanto, voltando ao tema, fiz uma curta pesquisa sobre porque é que Michael Moore não é tão popular como na década passada.

Bem, com opiniões liberais e progressistas vêm críticos conservadores. Procurei algumas críticas a Michael Moore na Internet, e dividem-se entre pessoas que lhe chamam gordo, pessoas que lhe chamam hipócrita, e pessoas que lhe chamam um ''gordo hipócrita''.

O ponto em que tocam é este:


Deve ser um argumento excepcionalmente poderoso, porque está por toda a parte. O argumento é mais ou menos este:
''Achas que a sociedade é injusta, mas beneficias dessa injustiça. Por isso cala-te.''

Tem graça que este argumento colhe. Até em Portugal. Se Michael Moore é um ''liberal de limousine'', em Portugal, há muita gente que  faz parte da ''esquerda caviar''.

Basicamente, são pessoas de esquerda que têm um nível de vida acima da média. E ainda têm a lata de dizer que acham que a sociedade é injusta, e que a riqueza está mal distribuída. Às vezes publicam coisas no facebook com essas tretas. Ás vezes têm iphones para mandar propaganda de esquerda!

É o velho argumento ad hominem, que ataca um ponto de vista com base em características da pessoas que o enuncia.

Neste caso:
Michael Moore ganhou dinheiro com os filmes que fez, logo não tem razão quando critica uma sociedade com base na distribuição de recursos económicos dessa sociedade.

Faz tanto sentido como:
Você é pobre, e nunca ninguém o ajudou, por isso não pode ser monárquico.
Você é branco, e beneficiou disso, logo é um hipócrita se defender ideias anti racistas.
Você é um homem e tem um pénis e tudo, logo não tem nada que defender os direitos das mulheres.
Você é gordo, por isso não pode defender estilos de vida saudáveis.

Mas fundamentalmente é isto:


Fundamentalmente é, não faças barulho, fica feliz com o que tens, há alguém que está pior do que tu.
Não tens dinheiro para começar uma família? Podias não ter dinheiro para comer.

Por isso, não chateies as pessoas que têm conta no Panamá, enquanto tiveres um iPhone.

1 comentário:

  1. O que é mesmo importante é as pessoas calarem-se e não dizerem coisas que possam ofender o Papão.

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