Pataniscas Satânicas

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quinta-feira, 21 de abril de 2016

The Road to Civil War - Captain America

A origem do Captain America? Porque é que ele tem uma moralidade preto-e-branco? De que maneira é que o percurso dele justifica a sua atitude no Civil War?

Vamos falar disso!

Como eu já disse, o Captain America é um produto da propaganda da Segunda Guerra Mundial, foi criado por Joe Simon e Jack Kirby, com a sua primeira banda desenhada a surgir em Março de 1941.

É claro que a Segunda Guerra Mundial começou a 1 de Setembro de 1939, mais de um ano antes do aparecimento do Captain America, mas não se esqueçam que a América não entrou logo para a guerra. Lembram-se quando é que a América entra oficialmente na Segunda Guerra Mundial?

A 7 de Dezembro de 1941 os Japoneses lançam o ataque ao porto americano de Pearl Harbour, que impulsiona os EUA a juntarem-se aos Aliados na luta contra os poderes do Eixo.

Ou seja, o Captain America esmurra o Hitler no queixo cerca de 6 meses antes da entrada da América na Guerra.

O Captain America é um produto do conflito mais preto-e-branco da nossa história. Temos os representantes da liberdade a lutarem contra os Nazis! 


Apropriadamente, no seu primeiro filme, o Captain America: The First Avenger (2011), Steve Rogers é um tipo magrinho mas que quer lutar contra os Nazis porque acredita que é esse o seu dever. Não porque quer lutar, não porque quer ser um herói, simplesmente porque essa é a coisa certa a fazer.

Convenientemente há um programa do exército que está à procura de recrutas a quem aplicar os Vita-Rays que juntamente com Soro do Super-Soldado inventado pelo Dr. Erskine, é capaz de dar a qualquer pessoa capacidades sobre-humanas de força, agilidade e durabilidade.

O Steve Rogers não é escolhido para ser o Captain America porque é um soldado perfeito, capaz de seguir ordens obedientemente e eficazmente, ele é escolhido porque é um homem BOM, porque tem um fortíssimo sentido de moralidade.

O Captain America nunca tem dúvida nenhuma acerca do que está certo e errado. Para ele todos os problemas são preto-e-branco. Foi aí que ele nasceu.


No seu primeiro filme não só está a lutar contra os Nazis, mas descobre que os próprios Nazis são uma espécie de incubadora à organização ainda mais sinistra que é a Hydra.

A Hydra está a usar o poder do Tesseract, uma das Infinity Stones, para criar um exército imparável que vai conquistar o mundo.

No fim é o Captain America que, contra todas as probabilidades, consegue desmantelar a organização maléfica e no fim sacrifica-se para destruir o Tesseract.


Como costuma acontecer neste tipo de histórias, obviamente, o Captain America fica melhor e é descongelado mesmo a tempo para poder participar em mais aventuras no Avengers (2012)

No Avengers o Captain America não tem propriamente um papel muito central, mas apesar de tudo há detalhes que nos dizem muito acerca da sua personagem.

No início do filme vêmo-lo desorientado, sem um lugar no mundo, até que o Nick Fury o convence a voltar a juntar-se à SHIELD para os ajudar a lutar contra uma invasão de alienígenas.

No entanto, a meio do filme, o Captain America descobre que afinal a SHIELD estava a investigar e a desenvolver as mesmas armas que a HYDRA tinha usado na Segunda Guerra Mundial.

No entanto, continua a haver a invasão de alienígenas, e o Captain America, com a sua moralidade preto-e-branco, sabe exactamente para onde dirigir a sua atenção, e as armas da HYDRA ficam um pouco esquecidas.


Mas será que um herói da Segunda Guerra Mundial, com uma bandeira no peito e com esse tipo de morais fixas na pedra consegue continuar a ser uma personagem actual e apelativa?

Como qualquer escritor vos dirá, uma das melhores ferramentas narrativas para dar interesse a uma personagem é dar-lhe um conflito interno. Um problema em que os valores pessoais da personagem chocam entre si, e isso cria angústia e sofrimento à personagem. Faz com que ela tenha dúvidas e hesitações e cometa erros, faz com que a interacção dela com o enredo seja mais complexa, e torna-a muito mais relacionável (porque todos nós temos conflitos internos também).

Mas o Captain America não tem conflitos internos. O Captain America tem sempre a certeza de qual é a decisão certa em qualquer situação.

Como é que se escreve uma história interessante para uma personagem que tem uma moralidade estritamente preto-e-branco?

É fácil. Basta metê-la num ambiente em que a moralidade seja o mais cinzenta possível.


No Captain America: The Winter Soldier (2014), Steve Rogers está completamente desenquadrado do mundo em que vive, sem referências, sem amigos, e muito deprimido. É um homem perdido no tempo. Passa os seus dias a visitar os amigos mortos nos museus e as antigas namoradas demenciadas nos lares de terceira idade.

Ao mesmo tempo, a organização para quem sempre trabalhou, a SHIELD, está a tentar implementar um programa de vigilância dos cidadãos para eliminar ameaças antes de elas sequer se manifestarem, algo que está em directa contradição com os seus valores rígidos de liberdade.

No filme o Captain America acaba por descobrir que a HYDRA infiltrou a SHIELD e que está a planear usar esse programa de vigilância para controlar o mundo, e que o seu amigo de infância, o Bucky Barnes, sofreu uma lavagem cerebral pela HYDRA e anda a assassinar pessoas.

O Captain America acaba a ser perseguido pela SHIELD/HYDRA ao mesmo tempo que tenta recuperar o seu amigo. A única coisa que o ajuda a manter-se são e a não perder o rumo no meio de todos estes problemas é o seu compasso moral sólido e estritamente branco-e-preto.


Depois do Age of Ultron (2015), e depois de uma data de filmes em que os Avengers se fartam de destruir coisas e provocar estragos a uma escala global, chega o governo e diz "Olhem, as pessoas estão a ficar assustadas com vocês, têm de parar de destruir coisas. É preciso ter alguém a regular-vos"

O governo quer controlar o poder dos Avengers, e quer que assinem os Acordos de Sokovia, que lhes dará o poder de fazerem exactamente isso.

Por esta altura temos um Captain America que repetidamente viu que as instituições organizadas podem ser corrompidas e que o governo não é de confiança.

Este Captain America aprendeu à sua custa que a única coisa em que pode confiar é em si mesmo e no seu próprio sentido de bem e mal.
Aprendeu que é mais seguro ter pessoas individuais a tomarem decisões morais, do que confiar em organizações para assumirem o poder e decidirem o que fazer com ele, porque inevitavelmente vão ser corrompidas.

É claro que ele vai rejeitar os Acordos de Sokovia e lutar contra o Tony Stark a favor deles.

Venha daí a Guerra Civil.

2 comentários:

  1. Finalmente uma resposta ao debate que eu tinha no recreio com os meus amigos! Quem é que ganha numa luta entre o capitão america e o iron man? Só tive que esperar 20 anos...

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    1. Tiveste de esperar 20 anos porque os estúdios sabiam que as pessoas que andavam a discutir estas coisas no recreio com os amigos iam precisar de 20 anos para poderem gastar dinheiro a ver essa pergunta respondida.

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