Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

quinta-feira, 10 de março de 2016

Money, dear boy...

''The master's tools will never dismantle the master's house''
- Andre Lorde

''Real change does not happen from the top down. It happens from the bottom up.''
- Bernie Sanders

O que é que fez o Steve Buscemi participar no blockbuster ''Armagedom''? Porque é que o Raul Julia foi Mr Bison no filme ''Street Fighter''? Como é que o Jeremy Irons foi parar ao ''Eragon''?

Bem...


O argumento é que o dinheiro tem capacidade de motivar pessoas extremamente talentosas para fazerem coisas de qualidade duvidosa. Ou pelo menos que não se coadunam com o que se poderia chamar 'integridade artística'.
Não quero com isto dizer que não adorei o 'Street Fighter' quando tinha 12 anos. E também não acho que venha mal nenhum ao mundo se alguém desenvolver um projecto artístico porque quer ganhar dinheiro.

O assunto fica mais problemático quando substituímos arte por política, e vez de integridade artística falamos de integridade política.


A verdade é que eu não queria... mas vou ter que começar por escrever sobre Donald Trump. A personagem mais discutida na minha novela preferida, que está dispersa pelo youtube:

''Quem é que vai ser o próximo presidente dos EUA?''

Eu sei... se as parvoíces que Trump faz para chamar à atenção fossem ignoradas, o fenómeno Trump desaparecia em 15 dias. O que significa que o bilionário de cabelo laranja voltaria à sua rotina habitual.


Eu sei que estão a pensar sobre mim: ''é por idiotas como tu não se calarem com frivolidades, que este lixo noticioso feito de parvoíces chocantes não desaparece.''

Fundamentalmente têm razão... mas tentem perceber: é que as parvoíces chocantes chamam à atenção... e quando um macaco está a olhar atentamente para qualquer coisa, o macaco do lado fica curioso, e começa também a olhar na mesma direcção. Mais de 99% dos nossos genes são iguais aos do chimpanzé, portanto, nós somos essencialmente macacos curiosos.


Portanto, não me julguem demasiado por estar a olhar para o mesmo sítio que os outros macacos estão a olhar.

Neste caso, os outros macacos estão a olhar para um pacóvio gorducho de capachinho pintado da cor do crepúsculo, que aparece na televisão a reclamar com qualquer coisa, ou a insultar alguém.


Trump quer ser visto como herói americano... ou no mínimo, protagonista. Quer que estejam a falar sobre ele. E, tal como na sala de aula o garoto que faz as palhaçadas é o que dá nas vistas, Trump sabe que se estiverem a falar sobre ele, as coisas estão a correr bem. Mesmo se estiverem a demolir-lhe a imagem. Mesmo se estiverem a assassinar-lhe o carácter.


É que ele é rico... E o dinheiro muda muita coisa....


Durante a campanha eleitoral, recusou-se a participar num debate em protesto pela escolha de uma moderadora do debate - Megyn Kelly. O facto é que Trump recusar-se a participar no debate gerou mais cobertura noticiosa do que o debate em si. E isso é curioso, e diz muito sobre o triângulo entre o público, os media, e o poder económico.

Este vídeo do youtuber 'nerwriter' está muito bem construído.

Depois de Trump anunciar a candidatura, a CNN produziu 2159 reportagens sobre a campanha dele. Só nos 3 meses que se seguiram! E de resto... há uma forte correlação entre a cobertura noticiosa da campanha de Trump, e os números dele nas sondagens.


Mais interessante é verificar, também há uma forte correlação entre a cobertura noticiosa de todos os candidatos republicanos, e a sua posição nas sondagens...


Basicamente, quanto mais um candidato é divulgado pelos meios de comunicação, melhor está colocado nas sondagens. O que é interessante, porque a capacidade de gastar mais dinheiro na campanha normalmente define, em certa medida, o volume de cobertura noticiosa.

Mas não só... Há outras coisas que confundem a questão. O mesmo dinheiro não compra a mesma cobertura noticiosa para toda a gente... As relações privilegiadas com a imprensa ajudam muito... e, no caso de Trump, o sensacionalismo.

Dois exemplos que acho que são paradigmáticos:

1

Vejam este link. Aqui Trump faz ameaças de morte a alguns jornalistas que estavam a cobrir um dos seus comícios. Além disso, diz que os odeia, e que eles são mentirosos nojentos.

Ficaram chocados? 'Land of the free, home of the brave...'... Berço da liberdade de expressão... É por estas coisas que comparam a ascensão de Trump, à ascensão de Adolf Hitler.

A ajudar a isto, a maior parte da população desconfia dos jornalistas, que ataquem trump ferozmente, o que só atraí mais atençao a Trump, e facilita que seja percepcionado como vítima. Isto facilita a narrativa de que ele está a lutar contra qualquer coisa, que tem uma cruzada moral. Quando na verdade... nem por isso...
Ele é um bilionário a falar sobre ele próprio... a fazer comentários xenófobos, e a insultar toda a gente no sistema. Nenhum jornalista gosta dele, mas nenhum jornalista gosta de vender menos jornais. E Trump vende jornais. Muito.

2

O outro exemplo vem da campanha de Bernie Sanders.

Sanders é um velhote socialista confesso, com 74 anos, a concorrer contra um ícone planetário - Hillary Clinton. Hillary tem o apoio de todo o sistema. Bernie financia a campanha através de pequenos contributos feitos por cidadão comuns. Quer acabar com a corrupção na política, e separar o sector comercial do sector financeiro, nos bancos americanos. (reimplementar a lei glass-steagall). Pois, e subir os impostos à bolsa em Wall Street...


Como seria de esperar, Bernie tem pouquíssimo apoio na comunicação social. Os jornalistas escolhem ignorá-lo. Quem lhes paga o salário, não está interessado em pagar mais impostos...

Portanto, quando há poucos dias surgiram notícias anti-Bernie em catadupa, alguma coisa estranha devia estar a passar-se. Além de muitos, muitos outros, a campanha dele registou 16 (!) artigos anti Bernie, do jornal Washington Post. Os artigos (que foram todos publicados em 16 horas) criticavam-lhe de maneira violenta, variadíssimas posições políticas, e saíram pouco antes de uma eleição muito importante no Michigan.


Surpreendentemente (ou não), o resultado das eleições no Michigan...


Sanders ganhou. As sondagens davam-lhe uma hipótese de vencer inferior a 1%, com mais de 20% de desvantagem para Hillary Clinton.

Agora que estabelecemos que Sanders não goza de apoio dos media, sabemos que o seu sucesso depende da sua campanha. E o que diz a campanha dele?


A campanha dele consegue relacionar perfeitamente o dinheiro investido em cada estado, e os resultados nas eleições. Quando mais dinheiro, melhores resultados.

O candidato mais 'trustworthy', com a mensagem mais populista, só consegue ganhar peso político, consoante a sua capacidade de se financiar.

Estão a ver o problema?


Em Portugal, a cobertura noticiosa e a proximidade com os meios de comunicação social, não tem nada a ver com os resultados de sondagens, e mesmo de eleições.


O Presidente Marcelo tem razão em estar na dúvida em relação a esta última frase...

Em Portugal temos coberturas noticiosas em campanhas políticas completamente justas, e aparentemente, leis excelentes...

''Candidatos preferidos das televisões''

''Candidatos queixam-se à Provedoria por tratamento diferenciado''

''Henrique Neto dia que não aceita 'apartheid noticioso''
''Cavaco sem medo, considera lei das campanhas ''anacrónica''
''Directores de informação querem mudar lei da cobertura eleitoral''
''Há muita ''tensão e confusão'' sobre a lei da cobertura eleitoral''
No entanto, não há promiscuidade entre o poder político e o poder económico na Europa e em Portugal também não, graças a Deus. 

Isso é coisa dos Americanos...
Dinheiro e política não se misturam por cá!...


Shiu.... que é que estão para aí a pensar?





Ainda há gente com lata suficiente para dizer que o governo PSD/CDS não criou empregos...

1 comentário: