Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Mulheres ao poder - parte I

'' A Dra pintou o cabelo?''

'' Olá Sandra. Ah sim, mas já foi à imenso tempo...''

'' Então abriu com o Sol, no Verão! E fica lindíssimo com a sua compleição!''

'' Estou mais bronzeada, já não estou com o ar cadavérico normal...''

'' Ai, não diga isso, o tom do cabelo é lindíssimo, fica bem com os seus olhos!''

'' Isto era para ser uma coisa discreta, você agora deixou-me embaraçada...''

'' Ah, mas não tem razão para isso...''

O atraso vai repercutir-se na hora do almoço, e ela começa a martelar freneticamente no teclado, e com os dedos na mesa se o sistema informático demora a responder. De resto, toda ela transpira impaciência. Mas também orgulho, e uma certa crença na própria superioridade. Não lha posso levar a mal. Afinal, acreditar que temos performances superiores, leva a que tenhamos performances superiores. E ela manda no serviço todo.
Há alguma verdade na psicologia positiva...

''A taxa média de utilização do aparelho é de 50%, mas nós temos uma superior a 90%. Há clínicas por aí fora, das quais não posso falar...''

Ela tem perto de 55 anos, cabelo pintado de vermelho, e óculos com a cor dos aros a corresponder. Passa o tempo na ponta da cadeira, fala pelos cotovelos e tem uma personalidade interessante. Alguém que foi inundada por um zelo de ritual social que resultou numa postura que parece manipular como uma luva de trabalho.

Não sei o que pensa, mas gostava de saber. Acho que o impacto emocional dela variava entre a responsabilização e a culpabilização, alternadas com a absolvição e bonomia de uma mãe extremosa que disciplina crianças desobedientes.

''Quem se segue, meus meninos? O menino Zé estava a falar sobre o cansaço à bocado...''

O menino Zé tinha 40 anos e uma barriga de 40 semanas.

O bom humor dela torna aquele paternalismo digerível, o discurso condescendente e acusador era pontuado por gargalhadas curtas, curtas, porque muito riso pouco siso, e acho que ela não se ria para expressar satisfação, mas antes para aligeirar as demonstrações dos erros dos outros. E depois de expressar opiniões potencialmente polémicas. Mantem uma relação cordial, sem deixar de dizer o que pensa.

''Não quer fazer o tratamento? Então e depois? Quando lhe der uma pataleta?''

''Vou para o jardim das tabuletas!''

''E se não for? Se ficar agarrada a uma cama, a penar? Tem que ter juízo! Olhe que não há juízo em comprimidos, por isso tem que se orientar... ''

O comportamento podia parecer um pouco artificial, demasiado modulado pelas regras de funcionamento em sociedade. De qualquer maneira é fácil falar, e mais fácil escrever blogs.


Fez-me lembrar a chefe de olhos de avelã e lábios carnudos, que agora parece nervosa. Foi recentemente eleita coordenadora da equipa, esta é a segunda reunião que dirige, e não se pode dizer que as coisas estão a correr bem.

Na verdade, as coisas estão a correr mal na empresa toda.

Nota-se que ela quer dar resposta às preocupações da equipa. Não tem meios, não tem tempo, e muitos dos problemas que os elementos da equipa expõem, são mais desabafos de funcionário que lida com o público e trabalha em excesso. Quem tem que manter um sorriso nos lábios enquanto fala com algum mal educado que lhe apetece esmurrar repetidamente, chega a casa com muitas coisas desagradáveis por dizer. Nas reuniões ventila-se muito deste mal estar.

A chefe de olhos de avelã e discurso delicodoce a virar passivo agressivo, não sabe responder a estes desabafos. Ou melhor, não entendeu ainda que não têm resposta.
Porque é que ela não mostra solidariedade e anuência, culpa a administração, diz que se vai ver o que se pode fazer, com aquele tom paternal que quer dizer: ''um dia destes... (nunca)''

Em frustração, começa a dizer a cada subordinado porque é que cada problema que levantam não é um problema. Ou porque é que a solução para o problema é evidente, e depende unicamente de mudança de comportamento do funcionário.

A frustração deles transforma-se na frustração dela. E ela só devolve mais frustração.

A reunião sobe de tom. Há outros seniores que levantam problemas, e ela responde da mesma maneira despótica. Diz-lhes que a culpa dos problemas é deles.
E é uma questão de tempo, até aos primeiros sinais de insurreição. Outra colaboradora pede a palavra, e começa a levantar dúvidas acerca da competência da nova coordenadora.

A chefe de olhos de avelã pega na palavra e começa a expressar o que pensa. Ela não pediu para ser chefe. Alguém tem que coordenar a empresa.

''Há aqui pessoas que não sabem trabalhar em equipa. Não conseguem colocar os interesses da equipa à frente dos próprios interesses. Vocês não se aturam, gostava de vos ver no meu lugar. A Manuela está ressabiada porque perdeu a votação, e tem inveja de mim. Sempre teve...''

Ela continua pelas mesmas linhas, exalta-se e começa a falar mais alto.

''Quem não quer estar aqui pode mudar-se. Mas quem fica é para trabalhar, não é para andar a lamuriar-se e a conspirar pelos cantos...''

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As mulheres em posições de chefia com frequência, são boas profissionais e apaziguadoras. As mulheres hostis, que se exaltam e entram em conflito, perdem as estribeiras, são vistas como tendo pouco controlo sobre as suas emoções, e incompetentes. Os homens que têm comportamentos similares são vistos como assertivos e independentes.

A sério, não estou a brincar. Há estudos sobre isto.
É só mais uma das facetas do sexismo que ainda existe.

Se há coisa que irrita são homens sensíveis ou mulheres inteligentes.
Descobre porquê na segunda parte das Mulheres ao Poder! :)


3 comentários:

  1. Li recentemente um artigo de acordo com o qual as mulheres processam as emoções negativas de forma diferente dos homens.

    http://www.medicaldaily.com/study-womens-brains-are-more-sensitive-negative-emotions-react-differently-mens-354226

    Isto coaduna-se de alguma forma com o que leste?
    Naturalmente que isto tem a ver com a maneira como as emoções negativas são sentidas e interpretadas internamente pelo próprio, e tu falas da percepção e interpretação de emoções pelo outro, mas será possível que estejam de alguma forma relacionadas?

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  2. O que li, mostra que essa é a questão. Não acho que os dois aspectos que levantas estejam separados, mas antes em interacção dinâmica.

    O estereótipo das mulheres demonstrarem mais as emoções que os homens, é o que eles chamam um 'Master stereotype'. Os estudos de reactividade emocional não o confirmam, pelo menos não da maneira que esperávamos.

    Das duas uma, ou os homens e mulheres respondem emocionalmente de maneira igual, e o que muda são os gender roles atribuídos, ou a questão é mais complicada que isso, e dissocia-se em reactividade emocional e regulação emocional, que será diferente entre os géneros.

    Mas o desenvolvimento desta parte da psicologia está ao nível dos estudos de função cerebral em RMN... eles vêem que a amigdala responde de maneira diferente, e há outras diferenças, mas o significado disso is a bit fuzzy...

    http://dept.psych.columbia.edu/~kochsner/pdf/McRae_gender_differences.pdf

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  3. O povo costuma dizer: "não peças a quem pediu, nem sirvas a quem serviu". As mulheres, com honrosas excepções ( talvez as da ocitocina), adoram o poder, unicamente para satisfação do próprio ego, a ponto de perderem com facilidade a dignidade do líder.

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