Pataniscas Satânicas

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terça-feira, 1 de setembro de 2015

Memes, ou a Existência Fractal de Código Auto-Replicante

Pensem num Vírus.

Num daqueles vírus que vos provocam tosse e febre e diarreia.

Agora pensem numa bactéria.

Já falei várias vezes sobre como as bactérias são robots proteicos. Reproduzem-se, têm metabolismo energético, homeostase, resposta a estímulos, e uma data de outras características que as definem como seres vivos.

E a vida como a conhecemos baseia-se no código genético.
O Código Genético escreve-se com ácidos nucleicos, moléculas orgânicas com 4 formas possíveis: Adenina, Timina, Guanina, e Citozina.
Estas quatro letras (ATGC) servem para escrever um código.
Esse código codifica instruções para como construir proteínas, que servem para construir o organismo, para realizar o metabolismo e a resposta a estímulos e essas coisas todas.
Codifica ainda instruções para como usar essas proteínas para fazerem mais cópias do código para a geração seguinte.



As bactérias são compostas por proteínas codificadas no seu código genético, e muito obedientemente, muito roboticamente, vão fazendo cópias do seu código genético para as próximas bactérias.
As pequenas variações no código genético são o que permite a variabilidade de proteínas e organismos sobre os quais vai actuar a selecção natural.
Dessa forma a evolução consegue transformar um ser vivo unicelular num gato.

Um vírus não é um gato.

Um vírus nem sequer está bem vivo.

Um vírus é só um pedacinho de código genético que codifica a instrução simples "faz mais cópias de mim mesmo".
Um vírus é uma sequência de ATGCs relativamente curta, que simplesmente diz para ser copiada.

Não codifica proteínas para metabolismo energético, não codifica proteínas para resposta a estímulos, nem sequer codifica proteínas para se copiar a si mesmo, não faz quase nada.
Só "faz mais cópias de mim mesmo".

Quando um vírus infecta uma célula, ela vai, muito obedientemente, simplesmente seguir a instrução do vírus, e copiar esse pedaço de código milhares de vezes, e as milhares de cópias vão elas ser copiadas milhares de vezes, e por aí fora, até a célula rebentar e os vírus poderem ir infectar outras células.
Desta maneira os vírus provocam tosse, e febre e diarreia.



É doentiamente mecânico. Porque os vírus não estão vivos, são só... código.

Código que é muito muito bom a replicar-se.

Um sistema que dependa da cópia e transmissão precisa de código é vulnerável a pequenos pedaços de código que sejam muito bons a replicar-se. É inevitável.

Podemos observar este mesmo fenómeno com outra coisa menos viva ainda.

Priões.

Os Priões são proteínas defeituosas.

As proteínas são compostas por um código sequencial de aminoácidos (20 aminoácidos, à semelhança das 4 letras do código genético) que determina a configuração tridimensional específica da proteína que lhe confere as suas características individuais.
Cada proteína individual tem o seu código específico de aminoácidos, diferente das outras proteínas.


Os Priões são proteínas cujo código de aminoácidos está alterado, o que faz com que se comportem de forma diferente.
Quando um Prião entra em contacto com uma proteína normal, induz alterações na sua estrutura que fazem com que esta também se transforme num Prião.

Este novo Prião vai entrar em contacto com outras proteínas normais, transformando-as em mais priões, e por aí fora, numa reacção em cadeia.
Estas proteínas inúteis, mal-formadas, acumulam-se dentro das células matando-as e provocando doenças desagradáveis como a Doença das Vacas Loucas ou a Doença de Creutzfeldt-Jakob.


Ou seja, temos um pedaço de código (de aminoácidos, nem sequer é o código genético que associamos à vida) que é extremamente bom a replicar-se, a proliferar de forma descontrolada num sistema baseado em código preciso.


Podemos observar este mesmo fenómeno de forma ainda mais abstracta.


Pensem de novo num vírus, mas agora num vírus informático.

Num daqueles vírus que vos tornam o computador lento, e instalam programas que não querem, e se enviam por e-mail a todos os vossos contactos.

Todos os programas informáticos estão escritos numa linguagem de zeros e uns. Longas sequências de 0001101010100101 que codificam instruções para como os programas devem funcionar.
O computador só segue as instruções no código dos programas para obter o resultado que esses programas é suposto fazerem.

Temos um sistema baseado em código que nem é físico. As letras deste código não são moléculas de DNA ou aminoácidos, são entidades matemáticas abstractas que permitem um código matemáticamente perfeito e extremamente complexo.


Um vírus informático é simplesmente um pedacinho de código que diz "faz mais cópias de mim mesmo". Também faz outras coisas como transmitir os vossos dados pessoais a companhias publicitárias, mas o que o define é ter a capacidade de se replicar, inserindo cópias de si mesmo noutros programas ou ficheiros.

Quando um vírus informático infecta um computador, ele vai muito obedientemente seguir as instruções no código do vírus e fazer vários milhares de cópias desse código e passá-lo a todos os outros computadores.



Mesmo um sistema baseado em código electrónico, abstracto, é extremamente vulnerável à proliferação de pedacinhos de código que se conseguem replicar muito bem.

Conseguem lembrar-se de algum outro código abstracto extremamente complexo que pudesse ser vulnerável a pedaços de código auto-replicantes?

Sim?

Que tal este? Este que estão a ler neste preciso momento?

Nem estou a falar da língua portuguesa propriamente dita, ou sequer nas letras do alfabeto, isso são só maneiras de representar o código.
Estou a falar de linguagem, aquilo que organiza os nossos pensamentos e sobre o qual conseguimos construir uma consciência secundária.

A linguagem é um código para os nossos pensamentos. Um código extremamente abstracto, que não compreendemos na totalidade, que tem regras de semântica, e de sintaxe, e que serve para comunicar ideias e instruções de pessoa para pessoa.


Agora pensem num Meme.

Provavelmente quando pensam num meme, pensam nisto:


Bonecos, desenhos, ou piadas, que andam por todo o lado na internet.
São populares, propagam-se, pegam-se, tornam-se moda. A maioria é rapidamente esquecida.

Se calhar, mas menos provavelmente, pensam no fenómeno do Harlem Shake, há uns anos...



Na realidade a definição de Meme é um pouco mais abrangente:

"Um Meme age como uma unidade que transporta ideias culturais, símbolos ou práticas que podem ser transmitidas de mente para mente através da escrita, língua, gestos, rituais ou outros fenómenos imitáveis (...). Podem ser melodias, frases-feitas, modas ou a tecnologia de construir arcos.
(...) Os Memes são um fenómeno viral que pode evoluir por selecção natural de uma forma análoga à evolução biológica. Os memes sofrem processos de variação, mutação, competição, e hereditariedade que afectam o sucesso reprodutivo do meme. (...) Memes que se propagam menos prolificamente podem extinguir-se, enquanto que outros podem sobreviver, espalhar-se e sofrer mutações.
Memes que se replicam de forma mais eficaz têm mais sucesso, e alguns podem replicar-se eficientemente mesmo quando são detrimentais para os seus hospedeiros."


Os Memes são pedacinhos de código linguístico que se replicam com muita facilidade e que por isso proliferam num sistema baseado em código.

Mas os Memes não causam doenças... Ou causam?

Leiam esta notícia. Eu espero...


No episódio de Morangos com açúcar algumas personagens estavam com alergias e comichões e com a pele vermelha.
Alguns adolescentes viram isso e começaram a acreditar que tinham comichões e pele vermelha, que depois se verificaram MESMO!
Ao falarem uns com os outros, a ideia tornou-se contagiosa, passando de adolescente em adolescente até atingir cerca de 200!

Uma ideia, um pedacinho de código linguístico, muito contagioso, com excelentes capacidades para se replicar, que proliferou num sistema baseado e código.

O mais impressionante é que isto foi um caso evidente de uma doença física, com sintomas observáveis, causada por um Meme! Uma doença provocada por uma ideia contagiosa.

Naturalmente que fenómenos de Histeria de Massas já são conhecidos há séculos, desde as Pragas de Dança Contagiosa na Europa do Séc. XVI até aos Julgamentos de Bruxas de Salem  na América do Séc. XVII.


Agora pensem na Religião.

Não, não pensem na Religião, não vamos entrar por aí!

Pensem nos Alemães a enviarem o Lenine para a Rússia em 1917 para ele espalhar lá as ideias do Socialismo e derrubar o Tzar!

Não, não pensem nisso.

Pensem em Fractais!


Fractais são conjuntos matemáticos ou fenómenos naturais que exibem um padrão repetitivo que é aparente a todas as escalas.

Ou seja, um fenómeno simples que ocorre da mesma maneira em várias ordens de grandeza, quer no muito pequenino, quer no muito grande.


Temos código viral auto-replicante a proliferar num sistema de código genético.

Temos código proteico auto-replicante a proliferar num sistema de código de amino-ácidos.

Temos código informático auto-replicante a proliferar num sistema de código de zeros e uns.

Temos código memético auto-replicante a proliferar num sistema de código linguístico.

...

It's turtles all the way down!!!

4 comentários:

  1. os vírus são aborrecidos. ainda bem que temos antibióticos bons para tomar, enquanto o nosso sistema imune resolve o problema!

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    1. Os Antibióticos resolvem tudo! Até dores de cabeça! Sobretudo a dor de cabeça do médico por ter de explicar aos doentes que as infecções virais não se tratam com antibióticos!

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  2. Todos os dias, na TV, as bruxas de Salem nos martelam a cabeça com espirais de material informativo secundário, para esconder a engenharia financeira que replica sempre com o mesmo código genético, dá dores de cabeça, náuseas , vómitos, fome sem anorexia: os chineses vão comprar um banco português falido, para ajudar, e de preferência com o dinheiro da caixa geral de depósitos portuguesa. Raio de virose que nunca mais passa, nem com antibióticos e dos fortes...

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