Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

domingo, 27 de setembro de 2015

Deep Blue Sea

Desde sempre que me senti fascinado pelo mar, mas quanto é que sabemos ao certo sobre o que se passa lá? Ou quanto é que não sabemos? Vamos falar sobre isso.

Água. Muita.
Gosto da ideia de que o facto de termos dado o nome Terra ao nosso planeta é mais um indício do nosso antropocentrismo quando na realidade o planeta é maioritariamente mar.

Famosamente, 71% da superfície da Terra está coberta por água, e toda a água do planeta (incluindo a que está na atmosfera e dentro do nosso corpo) tem um volume de aproximadamente 1.386.000.000 km3 de água.

É muita água, e muita superfície que não nos é imediatamente acessível. Cerca de 361.132.000 km2 que não conhecemos bem.

Temos mapas do fundo dos mares, é verdade. Até nos orgulhamos deles!

Um dos mapas mais detalhados do fundo do mar. Pontos vermelhos são locais de terramotos, que marcam onde as placas tectónicas se estão a separar.
A resolução do mapa mais completo que temos é de cerca de 5km.
Ou seja, qualquer coisa com menos de 5km de tamanho, não seria detectável no mapa.

Cinco mil metros.

Podíamos perder Lisboa neste mapa!

A sonda espacial Magellan mapeou 98% da superfície de Vénus com uma resolução de 100 metros. Recentemente mapearam a totalidade da superfície da Lua com uma resolução de apenas 7 metros.

Mapa de Vénus
Também temos mapas com 7 metros de resolução do fundo dos oceanos, não se preocupem. Infelizmente só cerca 0,05% do fundo do mar é que foi mapeado com esse nível de exactidão, ou uma área igual à Tasmânia.

Ali. Ao canto.

Portanto podemos dizer que sabemos literalmente menos do fundo dos mares do que o que sabemos da superfície da Lua.

70,05% da superfície do Planeta Terra que não conhecemos com um detalhe melhor do que 5km.

Sabemos isto:

O fundo do mar começa com a Plataforma Continental que se afunda na Escarpa Continental, cuja inclinação começa a diminuir lentamente num declive chamado Elevação Continental. Esta finalmente acaba-se na Planície Abissal, que pode ser interrompida por uma Crista Oceânica.

Chamo-vos a atenção para as Planícies Abissais.

São planícies de sedimentos no fundo dos oceanos, habitualmente entre os 3000 e os 6000 metros de profundidade.
São quase perfeitamente planas e lisas (sim eu sei que estou a duplicar sinónimos, mas quero mesmo deixar claro quão perfeitamente achatadas são). Estas superfícies submarinas variam em profunidade apenas 10 a 100cm por quilómetro quadrado.

E são grandes!


Uma das maiores, a Planície de Sohm, tem uma extensão de 900 000 Km2. É uma área 10 vezes maior do que Portugal.

Imaginem.

Uma planície interminável, numa escuridão absoluta e interminável, debaixo de frio e pressão tremendos.
Com uma queda constante e lenta de Neve Marinha como uma das únicas fontes de energia.


Os seres vivos que habitam este lugar são verdadeiramente bizarros. Alienígenas.
Cerca de 2000 tipos diferentes de bactérias, 250 espécies de protozoários e 500 de invertebrados podem ser encontrados em qualquer planície abissal.







A energia é escassa, e para além da Neve Marinha, existem as Fontes Hidrotermais.

Em zonas vulcânicas, fissuras na crosta por onde se escapa água aquecida pelo calor geotérmico. A água sai destas chaminés profundas, a temperaturas que podem chegar aos 464ºC, está carregada de minerais inorgânicos complexos, e varia entre a acidez ou a alcalinidade extremas.

Estas fontes hidrotermais sustentam comunidades enormes de seres vivos, em ecossistemas que começam nas bactérias extremófilas que consomem o metano e o enxofre super-aquecidos que saem das fontes, acabando nas Minhocas Gigantes e uma data de animais sem pigmentos.

Estas fontes hidrotermais são uma das possíveis origens para a vida na Terra.



Comunidades mais bizarras ainda ocorrem num acontecimento chamado Whale Fall.

Quando uma baleia morre, a sua carcaça cai no fundo da Planície Abissal onde começa lentamente a atrair todo um conjunto enorme de criaturas que vêm comer a carcaça.



No fundo da planície abissal, uma única carcaça de baleia pode servir de base a todo um ecossistema, que pode sustentar-se durante quase 100 anos, até que todos os ossos sejam inteiramente digeridos.

Com tanto espaço para acontecer coisas, não admira que volta e meia encontremos coisas completamente inesperadas.

Comouma bolha gelatinosa que foi encontrada na costa da Turquia, e que se pensa ser um aglomerado de ovos de lulas.


E já que estamos a falar de lulas, já há séculos que suspeitamos da existência de lulas gigantes nas profundezas.

Ilustração de 1861
Ilustração de 1877
Estes monstros cheios de tentáculos que podem atingir comprimentos de 13m, só muito recentemente começaram a ser apanhados em vídeo, vivos, pela primeira vez.


Quem sabe que mais anda lá pelo fundo?

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