Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

sexta-feira, 31 de julho de 2015

A Singularidade de Ray Kurzweil em 2045 - parte I: Buracos Negros

A Singularidade é uma metáfora perfeita para o que não sabemos.

Originalmente, a singularidade refere-se ao centro de um buraco negro. Um local real, onde as leis da física deixam de fazer sentido. O tempo e o espaço são deformados infinitamente, o que quer que isso queira dizer.


Como se pode ver na imagem, a gravidade de um buraco negro deforma a luz de maneira radical. O ''negro'' do buraco negro, refere-se ao ponto a partir do qual a gravidade é tão forte, que nem a luz lhe consegue fugir. Chama-se a isto ''horizonte de eventos'' ou ponto de não retorno. Ninguém de lá voltou ainda. (ninguém foi lá, também, porque o buraco negro conhecido mais próximo da Terra fica um bocado fora de mão... 1600 anos luz da terra)

Segundo a teoria da relatividade geral, um buraco negro deforma o espaço-tempo da seguinte maneira:


Isto significa um efeito engraçado, para o que quer que se aproxime do buraco negro. O fenómeno da 'esparguetificação'. A força gravitacional de dimensão inimaginável produz um efeito de 'esticar' os objectos como se estes fossem esparguete.


Como podem imaginar, isto da 'esparguetificação', não é uma coisa muito saudável para os nossos órgãos internos, a dada altura.

Engraçado é o facto da teoria da relatividade geral ter previsto há muito tempo a existência da buracos negros, mas o próprio Einstein não acreditava que poderiam existir. Pareciam-lhe demasiado estranhos.

Porque são! À medida que nos aproximamos de um buraco negro, o tempo desacelera. Por difícil que seja imaginar, o tempo é afectado pela gravidade. A força que nos deita em cima do sofá, torna a passagem do tempo mais lenta. O tempo passa mais lentamente para quem está no primeiro andar, em relação a quem está no décimo primeiro. É um dos motivo pelo qual se chama o espaço-tempo. O tempo e espaço estão ligados. Pela gravidade.... Eu sei. Parece estranho. Porque não percebo nada de matemática....


Por isso, à medida que nos aproximamos de um buraco negro, o relógio anda exponencialmente mais devagar. Isso faz com que quem nos vê de fora, não nos consiga ''ver'' cair num buraco negro. A nossa imagem mantém-se no campo visual deles, durante muitos anos, enquanto para nós passam algumas horas.

É também o motivo pelo qual um buraco negro parece uma ''lente''. O que acontece é que a gravidade desacelera a tempo que a luz leva a passar perto de um buraco negro. Não desacelera a luz. A velocidade da luz é constante. Desacelera a passagem  do tempo, no espaço que a luz está a atravessar.

Hoje em dia é consenso científico que os buracos negros existem. A realidade é mais estranha que a ficção. Mas a ficção continua em esforço para tentar ultrapassar a realidade.

Nomeadamente no que diz respeito à possível existência de Buracos de Verme (Wormholes). 'Dobras' no espaço-tempo, provocadas pela gravidade, que teoricamente permitem viajar mais depressa que a luz. Existe suporte matemático para a existência de Buracos de Verme, mas poucas (ou nenhumas), evidências observacionais directas. A dada altura a teoria da relatividade esteve nesta fase.
Caso existam, viajar através deles, significa aceder ao 'Hiperespaço', onde viagens mais rápidas que a velocidade da luz são possíveis.


Acho que esta imagem da possibilidade ajuda a acreditar. Porque eu quero acreditar. É tão fixe a ideia. Outra coisa que ajuda, é deixar de lhes chamar 'buracos de verme'. Vamos começar a usar o nome técnico 'Pontes de Einstein-Rosen'. Muito melhor! Pontes de Einstein-Rosen têm de existir!
O facto é que ninguém sabe o que está para lá do horizonte de eventos. Pode ser uma morte lenta por 'esparguetificação', pode ser uma viagem para um universo paralelo.

Pode ser o que a nossa imaginação quiser. E é isso que significa, hoje em dia, a Singularidade. Um momento/lugar no espaço-tempo  a partir do qual, não temos dados suficientes para saber o que acontece a seguir, a não ser que nos desloquemos até lá.

E nós colocamos lá as nossas maiores esperanças, mas também os nossos maiores medos. Viagens mais rápidas do que a luz, para universos paralelos, ou o nosso fim definitivo.

Isto não serve para muita coisa prática. MAS, agora já sabem o que quer dizer quando alguém diz que viajou do futuro pelo Hiperespaço, através de uma ponte de Einstein-Rosen, para vos dizer que têm de ir com essa pessoa, se quiserem viver.

Quer dizer que está na hora de chamar a Psiquiatria.

O 'Buraco de Verme' do filme Interstellar.


Mais recentemente, a Singularidade tem vindo a ser adoptada como metáfora para um acontecimento que muitos dizem ser inevitável, mas talvez não desejável. O advento da 'Singularidade Tecnológica'.

O momento da história a partir do qual, os computadores serão capazes de 'auto-melhoramento recursivo'. Refere-se à evolução da inteligência artificial até ao ponto em que um computador adquire a capacidade independente de programar outros computadores melhor do que ele próprio. E/ou a capacidade de conceber e construir outros computadores superiores a ele próprio.

Partindo do princípio que o computador não é preguiçoso, isto vai desencadear um loop de auto melhoramento da tecnologia, provavelmente exponencial, independente da intervenção humana. Se é independente da intervenção humana, não fazemos ideia da direcção que vai tomar. Estamos cegos para além deste 'ponto de não retorno', deste horizonte de eventos.

Desta Singularidade Tecnológica. Não sabemos o que vai acontecer. Então, projectamos lá os nossos maiores sonhos e expectativas. Mas também os nossos pesadelos.



Na segunda parte deste post, os palpites que os seres humanos têm dado, para a era pós Singularidade Tecnológica! (Os computadores têm feito cara de póquer em relação ao assunto)
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Músicas daqui para ali - dia 1

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quinta-feira, 30 de julho de 2015

No Man's Sky

*Disclaimer*: HYPED AS FUCK ARTICLE ABOUT NO MAN'S SKY - Estas são as razões pelas quais estou hyped e porque é que isto é diferente do Minecraft


É difícil começar a descrever este jogo.

O No Man's Sky é o melhor jogo que podia ser construído sobre a arquitectura do Minecraft.

Ainda hei-de escrever um artigo a explicar em detalhe o Minecraft, mas por agora envio-vos para um texto que eu escrevi em 2010 (!) quando o Minecraft ainda estava no início.

Para explicar o que precisam de perceber acerca do Minecraft passo a citar desse dito artigo.

Eu - É um mundo infinito gerado aleatoriamente onde podes fazer o que quiseres!
Ricardo - Fazer o quê?
Eu - Podes explorar e recolher materiais e fazer blocos e construir coisas!!!
Ricardo - E...?
Eu - ...e é isso.
Ricardo - Só isso?
Eu - Também tens zombies...
Ricardo - Ah! Tens de matar zombies!
Eu - Não tens de os matar... mas podes.. e eles só aparecem à noite..
Ricardo - Então o que é que tens de fazer?
Eu - Não tens de fazer nada! É essa a beleza do jogo podes fazer tudo o que quiseres!
Ricardo - E tu o que é que fizeste?
Eu - ...fiz uma casa.
Ricardo - Para quê?
Eu - ... para fazer uma casa.
Ricardo - Ah...
Eu - A casa é um fim em si mesmo!
Ricardo - Ah... fixe...

Agora que estão elucidados acerca do Minecraft, já vos posso falar do No Man's Sky.


Está a ser desenvolvido por uma companhia chamada Hello Games, e pelo director/programmer Sean Murray

Sean Murray
Para começar o jogo é LINDO.
Não é só que seja imensamente colorido, porque é, mas as cores escolhidas são invulgares e a paleta de cores escolhida  cria um ambiente e estética etéreos e quase psicadélicos.


Depois o jogo passa-se no espaço! Com naves espaciais e planetas e estrelas e alienígenas! (eu estou a apostar que vai ser lançado perto da estreia do Star Wars)
É um mundo de ficção científica espacial extremamente detalhado, com ambientes e tecnologias muito reminiscentes do Star Wars, do Star Trek, do Battlestar Galactica, até do Flash Gordon.
Existe uma narrativa, uma espécie de Lore, subjacente ao mundo (da qual ainda não sabemos nada) que terá de ser descoberta à custa de pistas. Existem beacons e sentinelas robóticas em todos os planetas que atacam o explorador se este abusar demasiado dos recursos do planeta.


Tem também um sistema de crafting, no qual podemos ir recolhendo recursos (elementos químicos) para ir melhorando e evoluindo o nosso equipamento.
Podemos melhorar a nossa nave espacial, o fato de protecção, as armas, etc.




À semelhança do Minecraft todo o conteúdo do jogo é criado por Geração Processual. Ou seja, cada planeta, montanha, rio, árvore ou animal é gerado pela primeira vez, automaticamente e aleatoriamente quando um jogador o descobre pela primeira vez.
Cada novo planeta fica guardado no servidor e pode depois ser visitado por outro jogador.
Até a música vai ser gerada processualmente!

É uma orgia de exploração infindável.



Para além dos planetas também estações espaciais e NPCs serão gerados, criando mercadores, piratas, caçadores de prémios, exploradores, etc.
Podemos sair do hyperspace e deparar com uma batalha espacial entre duas facções rivais.
Podemos simplesmente juntar-nos a um dos lados e começar a colaborar com essa cultura, ou ignorá-los e ir para o planeta explorar ruínas.

São aventuras espaciais!

Cada jogador pode escolher o tipo de jogo que quer fazer. Uma aventura calma, relaxante, hipnótica como o Minecraft era, a recolher recursos nos planetas e a vendê-los, ou uma aventura de acção em que se é um caçador de prémios a perseguir piratas espaciais a disparar lasers para todo o lado.



Depois há o TAMANHO do jogo.

O programa tem capacidade para gerar 18 quintiliões de planetas! 2x10^64 planetas!
Se o jogo tivesse 20 milhões de jogadores, ainda assim cada um deles teria 922,337,203,685 planetas individuais para descobrir.
Cada vez que um explorador descobre um planeta novo, fica registado como descobridor desse planeta, e o planeta fica guardado no servidor, podendo voltar a ser visitado por outro explorador no futuro.

Este número estupendo de planetas é muito maior do que várias galáxias juntas, tanto que o jogo é descrito como tendo criado um Universo inteiro.

Um número tão grade de planetas implica que cada jogador vai ter de explorar muito, mas mesmo muito antes de encontrar outro planeta que já tenha sido descoberto, quanto mais cruzar-se com outro jogador.


Mas este jogo corre o mesmo perigo que fez com que eu me aborrecesse do Minecraft.
Se o No Man's Sky tiver um mundo tão aberto, tão livre nas suas mecânicas, corre o risco de ser um jogo sem objectivos.
E por muito divertidas que sejam as mecânicas do jogo, sem um objectivo específico, com demasiada repetição tornam-se aborrecidas.
Seria fácil eu aborrecer-me nesse mundo. Depois de muita exploração, simplesmente desistia do jogo porque já não havia nada para fazer.

E mesmo assim seria um excelente jogo. Divertido, muito colorido, impressionante pelo seu tamanho.
Mas ia sofrer exactamente dos mesmos problemas do Minecraft.

A solução de Sean Murray para este problema é tão simples quanto é óbvia.

O objectivo do No Man's Sky é chegar ao Centro do Universo.


E na realidade basta isso, basta uma direcção.

Porque é que andamos todos a explorar planetas e a recolher recursos e a desenvolver o nosso equipamento? Para chegar ao Centro do Universo.
Subitamente todas aquelas mecânicas têm um propósito. Mesmo que sejam repetitivas têm ganhos que aproximam o jogador do seu objectivo final.

Todos os jogadores começam na periferia do Universo, longe uns dos outros, e dado que o seu objectivo é chegar ao Centro do Universo, começam a aumentar as probabilidades de se cruzarem uns com os outros.


Outra coisa que também já foi anunciada é que à medida que um jogador se aproxima do Centro, o programa de geração de planetas vai ficando cada vez mais "intenso".
Se na periferia os planetas são razoavelmente parecidos à terra, à medida que o jogador se paroxima do Centro, o programa vai construindo planetas cada vez mais bizarros, com condições mais extremas e sobretudo mais perigosos.


Portanto não só há uma direcção, como uma sensação de progressão e crescimento da dificuldade à medida que se progride nessa direcção.

Para mim, para a minha experiência de jogo, acho que isso fará toda a diferença.

Por enquanto não há sequer uma data de lançamento anunciada, mas quando o jogo sair, e eu o comprar e jogar, hei-de escrever uma crítica.


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quarta-feira, 29 de julho de 2015

O Gato de Güi

Acha que percebe alguma coisa de mecânica quântica? Eu também não, mas isso não me vai impedir de tentar explicar-lhe!

E para o fazer vou usar o meu gato, o Bob.
Porque descobri que o meu gato é quântico. O Bob é um ser multidimensional.

Era isto que faltava para finalmente poder responder a um desafio que me foi feito nos comentários de um post anterior, no qual me era pedido um texto sobre Mecânica Quântica. E quem sou eu para fugir a um desafio?


Ora portanto a Mecânica Quântica.

"A Mecânica Quântica tira o seu nome da observação que algumas quantidades físicas existem, mudam e interagem, apenas em quantidades discretas (em saltos certos) e que se comportam probabilísticamente e não determinísticamente.
Esses "saltos" são tão pequenos que são imperceptíveis mesmo ao microscópio e só podem ser descritos em termos de uma função de onda, em vez de partículas específicas a movimentarem-se.

Outros princípios fundamentais da mecânica quântica são a dualidade onda-partícula (as partículas quânticas comportam-se como uma onda e como uma partícula) o princípio de incerteza (medir um atributo, como a velocidade, pode fazer que outros atributos, como a posição, sejam menos mensuráveis), e a sobreposição e o estatuto de observador (uma função de onda sobrepõe múltiplos estados de coexistência com várias probabilidades, e a observação causa o colapso da função de onda num único estado específico) o que leva ao famoso exemplo do Gato de Shrödinger."


O que é que isto tudo significa?

Quando Niels Borh propõs o modelo atómico em 1913, imaginou um átomo como sendo composto por um núcleo de protões e neutrões, à volta dos quais orbitavam electrões. De acordo com este modelo os electrões seriam partículas que se moviam em posições específicas em órbitas perfeitas.

Notou que os electrões "saltavam" de órbita para órbita sem aparentemente passarem pelo meio.
Estavam numa órbita, faziam um PUFF e apareciam instantâneamente noutra.


Se isto vos parece estranho, é porque de facto este modelo já está ultrapassado, e já conseguimos perceber que não é assim que na realidade as coisas funcionam.
A realidade é ainda mais estranha! 

Em 1923 o físico Erwin Schrödinger propõe o modelo quântico do átomo de acordo com o qual os electrões não são simplesmente partículas com uma posição específica numa órbita, mas sim partículas-ondas que existem simultaneamente em várias dimensões e que a sua posição é meramente uma função de probabilidade.


Ou seja, um electrão nunca existe num único ponto no espaço, existe em todos simultâneamente, sendo que é mais provável encontrá-lo em alguns lugares do que noutros, numa espécie de nuvem de distribuição probabilística.

Dado que os electrões não se comportam como partículas simples mas também como ondas de probabilidade, é impossível determinar todos os seus atributos ao mesmo tempo porque o simples facto de o observar faz colapsar a nuvem de probabilidade e obriga o electrão a prender-se a apenas um dos seus estados, o que impossibilita saber tudo o que haveria para saber acerca dele.

Se se estão a sentir-se muito confusos e perdidos, podem ficar descansados porque essa é a reacção normal à exposição à mecânica quântica.

Não se preocupem, tudo fica melhor com gatos.



Um dos exemplos mais populares da mecânica quântica é O Gato de Schrödinger.

O Gato de Schrödinger pretende exemplificar com um objecto macroscópico fofinho o comportamento de uma partícula sub-atómica.

O Gato de Schrödinger está numa caixa fechada com veneno.
Só há duas hipóteses, ou o veneno se liberta, ou não. Na primeira, o gato morre, na segunda o gato está vivo.
Não sabemos enquanto não abrirmos a caixa. Enquanto não abrirmos a caixa, o gato está simultaneamente vivo e morto.

Quando abrirmos a caixa e observarmos, obrigamos o gato a decidir-se em que estado está, colapsamos a função de onda, e de todas as probabilidades possíveis, só pode restar uma.
Mas antes disso todas elas existem simultaneamente.


É assim que se comportam os electrões e as partículas sub-atómicas, as partículas quânticas.
Existem em todo o lado ao mesmo tempo, e em todo o tempo ao mesmo tempo.

Uma das melhores explicações para este fenómeno é de que as partículas quânticas são na realidade como se fossem cordas esticadas ao longo de várias dimensões, em vários momentos do tempo, e quando vamos lá observá-la obrigamos a corda a revelar-nos apenas o pedacinho de si que está na nossa dimensão e no nosso tempo naquele momento.

Para nós parece-nos que o electrão salta para dentro e para fora da existência, quando na realidade ele existe em todo o espaço e tempo simultâneamente, e nós só o vemos em determinados momentos.
Por muito bizarro que isto tudo possa parecer existem várias experiências que vêm provar mesmo estes conceitos mais rebuscados e excêntricos.

Apesar de Einstein ter famosamente dito que "Deus não joga aos dados" como forma de ridicularizar a mecânica quântica, a verdade é que existem inúmeras aplicações actuais da mesma.


Olhemos agora para o meu gato, o Bob

O meu gato é um sacana fofinho, e eu cheguei à conclusão que também é um ser multi-dimensional.
Ele salta para dentro e para fora da realidade quando eu não estou a olhar.

Naqueles momentos em que nem me lembro que tenho um gato, é porque nesse momento, nessa realidade, o gato de facto não existe. São momentos em que o gato não existe na minha dimensão.

Ou quando ando à procura dele durante 15 minutos e não o encontro em lado nenhum. Pirou-se para uma sala diferente com um sofá em tudo igual ao meu, mas ligeiramente diferente, numa dimensão diferente.

E depois aparece de repente a perseguir uma moeda. Ele persegue a moeda desvairadamente durante cerca de 30 minutos e depois salta outra vez para fora da realidade.
Eu imagino que ele já está a perseguir aquela mesma moeda há vários anos (séculos) ao longo de uma infinitude de dimensões, e que o Bob que eu vejo agora pode perfeitamente ser o mesmo Bob que eu vi há dois dias e que vou ver daqui a três semanas, e que continua a perseguir a mesma moeda.

O meu gato existe numa data de estados diferentes. Há o Bathroom Bob, quando ele se mete dentro da banheira a espreitar para nós por cima da borda, o Sleepy Bob, que é o Bob que vemos mais, e que se costuma seguir do Stretchy Bob. Há o Crazy Bob quando ele anda a correr desvairado pela casa em todas as direcções.

É meramente uma questão de probabilidade que Bob é que eu vejo, porque o Bob é simultâneamente todos estes Bobs. Ele existe simultâneamente em todos estes estados, ele É simultãneamente todos estes estados, é uma onda e não uma partícula.

Eu nunca consigo ver todos estes estados ao mesmo tempo. Há vezes em que sei que ele se está a mover, mas não sei em que dimensão está, porque nessas alturas não o vejo em lado nenhum.

Até eu ir à procura dele, ele existe sob todas estas formas, mas quando o encontro destruo esse estado de sobreposição de estados e obrigo a causalidade a mostrar-me apenas uma, que pode perfeitamente ser o Lounge Bob (este eu vejo muito).

O que isto implica é que existem um número incontável de Bobs a viajarem por um número incontável de dimensões, e em todas ele está-se a cagar para mim!

Olhem para ele, olhem! Desgraçado...

Little adorable motherfucker
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terça-feira, 28 de julho de 2015

Lady of Valor (Warrior #3)





Sinopse: Left a widow by her cruel husband’s death, Lady Emmalyn of Fallonmour is determined to control her own destiny, until her hard-won vows of independence are threatened by the mysterious warrior sent to protect her castle on order of the king. Emmalyn is now at the mercy of Sir Cabal, a feared knight known as Blackheart.
Skilled at war and hiding a tormented past, Cabal swears allegiance to no one but himself and his country. But once he meets Emmalyn, he finds his strength tested by this proud beauty who stirs his blood with desire, tempting him to defy his king and surrender his heart. . . .






Opinião:
“Lady of Valor” é o terceiro livro da trilogia Warrior de Tina St. John. Li o primeiro livro desta trilogia há cerca de dois anos. Na altura tinha descoberto o meu gosto pelos romances históricos e as maravilhas de saborear um género relativamente previsível mas reconfortante.
A premissa é interessante, dentro do género, e a verdade é que não conheço muitos romances que se reportem á época medieval. Cabal, o herói, é um personagem estereotipado, mas consistente, com quem se consegue criar empatia. Já não consegui apreciar muito Emmalyn enquanto personagem principal feminina. Não consigo entender como uma mulher consegue ser tão perspicaz no que toca a negócios e tão ingénua (associado a um elevado grau de teimosia) no que toca a todas as outras situações. Esta é uma personagem que consistentemente se coloca em situações de perigo perfeitamente evitáveis – que vontade de a abanar…
Outro problema que tive com esta história teve a ver com o enredo. Creio que existiram algumas inconsistências históricas, nomeadamente na liberdade de movimentos que era permitido a Emmalyn sem acompanhante. No entanto, uma das minhas grandes questões deveu-se à escolha do momento para a concretização da relação amorosa entre os dois. Quem é a mulher que escolhe ter relações sexuais pela primeira vez com um homem horas após a terem tentado violar? Mesmo tendo sido salva por Cabal, como é que Emmalyn estaria disponível mentalmente para isso?
Por fim, o final pareceu-me apressado e muito pouco esclarecedor. O que aconteceu ao Lord Hugh? Como é que em tempos medievais, um bastardo plebeu consegue casar com uma aristocrata e ficar com as suas terras? Nada foi explicado, foi simplesmente mostrado um final feliz.

No geral, foi uma leitura mediana. A linguagem é simples, a cadência adequada, mas confesso que fiquei ligeiramente desapontada. Estava à espera de mais.
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segunda-feira, 27 de julho de 2015

O Papão vem do Norte - Parte II

Como é que um Bárbaro se transforma num Padre? Descubram agora, na Parte II de O Papão vem do Norte!

Na Parte I expliquei que a prevalência na nossa cultura do trope Grim Up North, com a sua correlação entre o Mal e o Norte Gelado, tem a sua origem na nossa cultura Românica através da qual herdámos o seu medo dos Bárbaros que vinham do norte.

Mas este Papão dos Romanos, o bárbaro selvagem e violento que vem do norte para comer as crianças romanas que não comem a sopa toda, não corresponde bem ao nosso Papão actual que é culpador, austero, severo, que prega o auto-sacrifício e a penitência e limita os prazeres.

Como é que o Papão se transmuta de uma imagem para a outra, sem no entanto nunca deixar de vir do Norte Gelado?

Para o compreendermos temos de começar pela Igreja Católico-Romana.


O cristianismo torna-se a única religião oficial do Império Romano no ano 380 e é uma das principais ferramentas na sua política expansionista e conquistadora. 
Espalham a fé cristã por toda a Europa e quando Roma cai a Igreja Católica é a única coisa que resta para manter acesa a luz piloto da civilização.

Não é uma tarefa fácil se se é uma religião pacifista de "oferecer a outra face" sem exércitos profissionais. 
A melhor ferramenta que tinham era o monopólio da Palavra de Deus. Portanto, em vez de combater directamente os Bárbaros do Norte, a Igreja dá continuidade ao que os Romanos tinham iniciado antes, e continua a converter e a civilizar as tribos.
É mais fácil ensiná-las a terem medo do Papão e depois dizer que se é o representante do Papão na Terra, e os únicos capazes de transmitir a vontade do Papão.


Não podemos esquecer nunca a mentalidade da população desta altura: era um povo completamente ignorante, maioritariamente analfabeto (mesmo a nobreza), incrivelmente supersticioso e profundamente religioso.
Não havia distinção nenhuma entre pensamento mágico e pensamento lógico, e a preocupação com o futuro da alma era uma coisa muito importante na vida diária.

Portanto quando a Igreja Católica dizia ao povo que se não se privassem dos prazeres terrenos, se não trabalhassem muito, se não fossem obedientes, as suas almas iam ser atormentadas para o resto da eternidade, eles acreditavam, pegavam na enchada e iam cavar.


O que acontece quando se tem uma mão de obra do tamanho de um continente, obediente e a trabalhar de graça é que se enriquece muito.

Com as quantidades exageradas de dinheiro vêm os excessos, a opulência e a corrupção.

A Igreja Católica tornou-se notória nessa altura pela sua riqueza e deboche, que podem ser encapsulados na figura do Papa Alexandre VI, chamado Rodrigo Bórgia, acusado de excesso de gastos, venda de cargos da Igreja (simonia), lascívia, e nepotismo.

Papa Alexandre VI
A Santa Igreja Católica Romana podia dar-se a estes luxos, riquezas e corrupções, porque o Sul da Europa, como já dissemos na Parte I, era muito fértil e havia sempre muita comida.
Mesmo que num ano houvesse excesso de gastos ou as reservas de comida fossem desviadas para alimentar um exército qualquer, ou um governador corrupto decidisse ficar com elas, havia sempre umas pontinhas que restavam que davam para que a população não morresse à fome.
No ano a seguir voltavam a plantar e recuperavam as reservas todas outra vez.

Mais valia reunir os pobres todos e cagar-lhes em cima
No Norte da Europa, onde havia muito frio e gelo e havia menos luz e menos calor, a terra era menos fértil, e os invernos extremamente rigorosos. Não havia margem de erro possível.
Se numa aldeia houvesse corrupção e a comida fosse açambarcada ou desviada, morria tanta gente que no ano seguinte não havia gente suficiente para voltar a plantar, e morria a aldeia inteira.

Não havia espaço para a corrupção. Tinha de ser tudo contado e igualmente distribuído por todos, se queriam ter hipótese de sobreviver.
É razoável pensar que teriam ficado chocados e indignados com os gastos exagerados dos países do Sul.

Por curioso que possa parecer, o que os chocava mais até era a venda de Indulgências.


Porque aparentemente se passarem séculos a ensinar ao povo que se sofrerem e forem obedientes e subservientes o suficiente podem livrar-se do pecado original e ganhar o paraíso e a vida eterna mas depois permitirem aos ricos e nobres que comprem a sua entrada no paraíso apesar de todos os excessos e pecados que cometeram, isso chateia as pessoas.

Existiam até padres especializados na venda de Indulgência, chamados quaestores que tentavam obter a maior quantidade de dinheiro possível por cada Indulgência vendida, a troco da salvação eterna. Este dinheiro acabava por ir parar às mãos da Igreja ou do Rei local, e era usado para a construção de Catedrais ou para financiar Crusadas.

Martinho Lutero
Essas desigualdades criaram tensões que foram crescendo e crescendo até que um padre alemão chamado Martinho Lutero se chateia e um dia, em 1517, prega na porta da igreja um documento a criticar a Santa Igreja Católica Romana e o Papado.

Esse documento criticava sobretudo a venda de Indulgências, políticas doutrinais acerca do purgatório, juízo particular e a autoridade do Papa. Promovia uma noção de igualdade entre os homens, promovia a educação e refutava a ideia de que algumas pessoas nasciam já com direitos divinos a serem ricas.

Outra coisa extremamente importante que Martinho Lutero fez foi traduzir a Bíblia do latim para o alemão vernacular, o que permitiu à população leiga ler pela primeira vez a Palavra de Deus.
A importância disto não pode ser minimizada, mas eu precisava de todo um outro artigo para o explicar.



Basicamente, o povo começou a ler a bíblia e a interpretar à sua maneira as histórias que lá vinham.
Em particular, aperceberam-se da figura de Jesus Cristo como um pobre que defende os pobres, e abraçaram a ideia de que não havia nenhuma lei divina que os obrigasse a serem pobres a vida toda.

(Curiosamente, na narrativa bíblica da história de Jesus Cristo passada em Jerusalem, os invasores maus-da-fita vêm de Roma, a Norte).

Estas ideias espalharam-se viralmente pelos pobres e camponeses da Europa, que decidiram fazer alguma coisa acerca do assunto.
Escusado será dizer que a Igreja Católica não gostou nada disso.

O que é os camponeses europeus fizeram, e o que é que a Igreja fez acerca disso?
Descubram na Parte III de O Papão vem do Norte.

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domingo, 26 de julho de 2015

Kepler 252b, porque é que eu não conheço nenhum Alien...?


Porque é que isto apela ao nosso imaginário o suficiente para aparecer com este destaque no Expresso?

Bem, primeiro é silly season, tempo em que as linhas editoriais se permitem certas inclinações para o entretenimento (Infotainment). Mas mais importante, apesar de enterrada em jargão científico, a nossa motivação emocional para ler este tipo de notícias é pura e simples curiosidade pelo estado da arte do avanço da ciência. Assim como a motivação da equipa que fez a descoberta, claro.


O motivo é o mesmo desde há décadas. Mas anteriormente gerou um entusiasmo e reacções diferentes...


Um fascínio aproveitado pela cultura Pop em inúmeros livros e filmes. A ficção científica ganhou muita expressão com as histórias sobre Aliens. E numa altura em que as populações interpretavam o que a imprensa dizia como sendo verdade. If it is written, it must be true… Esta credibilidade (credulidade?) chegou a gerar pânico, enquanto o género da ficção científica se definia.


Era um tempo diferente. Quando nos apercebemos do tamanho do universo, e do facto de que somos constituídos dos elementos mais comuns que existem, estávamos confiantes que mais cedo ou que tarde os Aliens nos iriam contactar. E quando isso acontecesse, tudo podia acontecer. Desde a salvação da humanidade, ao holocausto nuclear.

Mas não aconteceu nada. Assim como em tempos idos os psicóticos/maníacos passeavam nos asilos coroados com bivaques de papel, e a mão direita enfiada no peito do robe, Napoleões de sabão, com a era da exploração espacial, a patologia psiquiátrica começou a gerar raptos por Aliens.


A ausência de visitas confirmadas de Aliens, com os únicos testemunhos a serem feitos por doentes psiquiátricos, mudou a nossa reacção de pânico para integração e familiaridade. A cultura popular transformou os Aliens de horríveis montanhas de tentáculos que gostavam de fazer colonoscopias a transeuntes no sul americano, em membros da nossa família. De maneira bastante literal... Não acreditam?



O que é facto é que a pergunta: ''Se existem aliens, porque é que eles não nos visitam?'', mantém-se, e é válida. Chama-se o Paradoxo de Fermi. É importante não esquecer que a espécie humana só consegue comunicar à velocidade da luz muito recentemente, e o espaço é um sítio grande. Além de que algumas coisas que fazemos podem ser vistas como menos que simpáticas/inteligentes.

No fim do dia é um tema que é divertido debater. Mas acho que não devemos perder a perspectiva de que o nosso futuro distante pode muito bem passar pela exploração espacial. A Terra não tem sido muito bem tratada nos últimos anos, o aquecimento global não parece dar sinais de abrandar (nem nós...), e temos o exemplo de Marte, um planeta que teve água abundante em estado líquido, e hoje é um deserto.


De resto, a ficção científica tem adoptado estes ícones e temas como plotlines, às vezes de maneira muito interessante. E esse é outro motivo porque o Kepler 252b é importante.


Acho que devemos continuar a explorar o espaço, porque é lá que está a resposta às perguntas fundamentais: ''De onde viemos? Quem somos? Para onde vamos?''. E toda a nossa ciência, filosofia e arte são tentativas de responder a estas perguntas. A ficção científica é só uma modo de expressão artística diferente, para fazer as mesmas perguntas imemoriais.


E além disso, nós até somos bons a fazer colonoscopias...

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