Pataniscas Satânicas

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quinta-feira, 19 de março de 2015

Destruir o Serviço Nacional de Saúde para Tótós

Imagine que é o governante corrupto de uma república das bananas à beira mar plantada.
Como governante corrupto, o seu objectivo não é governar, mas sim roubar para si e para os seus amigos. Isto é importante. Não se ponha com conversas ou pretensões de moralidade, se você foi para o governo foi com o único proposito de roubar a maior quantidade de dinheiro possível.

Um dos lugares onde pode roubar mais é no Serviço Nacional de Saúde, com o benefício adicional de ajudar os seus amigos e o bónus de fragilizar ainda mais a população.

Vou agora explicar-lhe como o pode fazer em 6 passos simples, e só precisa de uma crise económica global para culpar e para mascarar a sua estratégia.


Passo 1 - desestabilizar os cuidados de saúde primários

Os cuidados de saúde primários são a mais importante componente de um serviço nacional de saúde, portanto são claramente o nosso ponto de partida.

Cada vez que um médico de família se reformar, em vez de abrir uma vaga para o substituir, passe os seus doentes para os outros médicos, aumentando as suas listas de 1500 para 1900 doentes. Não só paga menos salários, como sobrecarrega os médicos que restam, e aumenta os doentes sem médico.
Pode ainda atribuir mais tarefas burocráticas (como atestados para cartas de condução) aos médicos de família, para reduzir ainda mais a sua capacidade de resposta.



Passo 2 - desestabilizar os cuidados de saúde secundários

Pensava que nos íamos ficar pelos primários? Não, vamos destruir tudo!

Já que os cuidados de saúde primários estão com resposta insuficiente, as pessoas vão começar a recorrer mais aos cuidados hospitalares, sobretudo às urgências.
Portanto vai tirar médicos das enfermarias e dos seus trabalhos especializados para tratar de problemas e urgências que podiam ser tratados nos centros de saúde. 
Isto aumenta os custos de saúde obviamente, mas isso é uma coisa boa, como veremos mais à frente.
Pode aproveitar e ainda reduzir as comparticipações dos tratamentos hospitalares e aumentar o custo de acesso às urgências.

Entretanto os idosos internados nas enfermarias morrem, o que não é mau porque assim há menos reformas para pagar. 



Passo 3 - fortalecer os cuidados de saúde privados

As pessoas queixam-se que os hospitais não funcionam bem, que os cuidados nas enfermarias são maus os tempos de espera nas urgências são demasiado grandes, o Serviço Nacional de Saúde tem fama de ser demasiado dispendioso. 

Tudo isto são problemas que você mesmo criou em primeiro lugar e que agora lhe permitem fazer várias coisas.

Como as pessoas estão insatisfeitas com os serviços de saúde públicos, vão recorrer às clínicas e hospitais privados (dos amigos).
Como há pessoas que não querem ou não podem ir ao privado, e o Serviço Nacional de Saúde é insuficiente e tem fama de ser dispendioso, pode fazer contratos (pagos com os impostos das pessoas) para as pessoas irem ter cuidados de saúde a hospitais privados (dos amigos).

Não interessa que estas estratégias sejam mais dispendiosas para o país a curto e longo prazo. Lembre-se, o seu objectivo é roubar, não é ser coerente. 



Passo 4 - enfraquecer a classe médica

Um problema com os médicos é que têm a mania que são alguma coisa de especial, que são importantes para as pessoas e que prestam um serviço essencial ao país.
Adicionalmente enquanto está dependente de um número limitado de médicos para prestar cuidados de saúde, tem pouca margem de manobra e tem de ceder com mais facilidade às exigências desses poucos médicos.
Estas coisas são problemáticas porque de vez em quando os médicos chateiam-se e fazem greves e isso é chato porque aparece nas notícias, e as pessoa zangam-se e você tem de roubar um bocadinho menos durante algum tempo. 
Portanto é importante enfraquecer a classe médica. 

Se tiver os media no seu bolso (e que raio de governante corrupto é você se não tiver?) pode tomar medidas que na prática têm pouco ou nenhum impacto, mas que quando aparecem nas notícias transmitem uma ideia errónea que as pessoas não têm a informação necessária para distinguir da realidade


"os médicos agora tem de trabalhar 40 horas por semana" quando na realidade a vasta maioria já o fazia, e o que as pessoas pensam é que os médicos não querem trabalhar.
"todas as ofertas aos médicos têm de ser declaradas nos impostos" quando na realidade de vez em quando recebiam uns ovos de um doente e umas canetas feias, e o que as pessoas pensam é que os médicos andavam todos a receber carros por debaixo da mesa.
"Os médicos recebem fortunas para trabalhar nas urgências" e às vezes nem sequer querem aceitar esse dinheiro, quando na realidade esse dinheiro está a ser pago às empresas privadas (dos amigos) que os contratam com a mesma remuneração de sempre.

Pode ainda incomodar os médicos e dificultar-lhes a vida implementando controlo biométrico de assiduidade (mesmo em Unidades de Saúde Familiar, que funcionam por objectivos e não à hora). Pode poupar dinheiro (que pode depois roubar) em programas informáticos que funcionam mal para lhes atrasar as consultas e fazê-los parecer incompetentes em frente aos doentes.
Até lhes pode começar a baixar os salários, com a desculpa de que estão a perder eficiência (quando na realidade essa eficiência é medida por fasquias que você mesmo impõe de maneira a serem impossíveis de atingir).



Tudo isto com o objectivo, naturalmente, de dificultar o trabalho dos médicos no SNS e para os obrigar a reformarem-se ou a mudarem-se para o privado (que, mais uma vez, de certeza que vai dar um cabeçalho espectacularmente enviesado "Médicos recusam trabalhar no SNS").

Outra coisa inteligente que pode fazer é transformar os médicos num recurso abundante e, portanto, sem poder reivindicativo. Como é que faz isto?

Aumentando o número de faculdades de medicina e não regulando de todo o número de vagas, de maneira a produzir mais recém-licenciados em medicina do que o que sabe fazer com eles.
Até pode, se quiser, e sempre sob a desculpa de que existe falta de médicos (problema que você mesmo criou), abrir faculdades de medicina privadas (dos amigos).
Desta maneira, daqui a uns 4-5 anos quando todos estes internos se especializarem, você mantém o número de vagas de trabalho reduzidas, e assim pode ter imensos médicos à procura de emprego. Nessa altura você pode começar impôr toda e qualquer restrição que queira, porque a procura é muita e a oferta pouca, e nessa situação o poder está do lado de quem oferece.



Passo 5 - Criar uma nova classe de médicos

Finalmente pode construir toda uma nova classe de médicos formatados e treinados para servirem os seus propósitos.
Dado que o seu objectivo é ter o menor número de médicos possíveis a fazer o maior número possível de consultas, precisa de médicos com uma enorme capacidade de fazer consultas e de trabalhar para os números. Não importam na realidade os cuidados preventivos, o planeamento familiar, a saúde materna, a saúde infantil, o seguimento de doenças crónicas. O que você quer é que as pessoas não fiquem em casa muito tempo constipados e que vão trabalhar o mais depressa possível.

Pode então alterar a formação dos médicos de família de maneira a pôr de lado um treino virado para a compreensão inteligente e cuidados de qualidade, focando ao invés disso o trabalho direccionado por números e de decoranço.

Desta maneira não só estimula ainda mais médicos a irem para o privado, como garante que os que ficam são os autómatos que precisa para verem doentes a metro.



Passo 6 - Colher os benefícios

Portanto o que é que conseguiu atingir com esta estratégia?

Desorganizou completamente a estrutura do Serviço Nacional de Saúde, reduzindo a capacidade de resposta tanto de hospitais como de centros de saúde, de maneira a que os centros de saúde se tornaram em repartições públicas e os hospitais estão focalizados no tratamento urgente de problemas pouco graves.
Isto faz com que as pessoas deixem de recorrer ao Serviço Nacional de Saúde e passem a recorrer aos hospitais privados dos seus amigos.
Conseguiu também cortar as comparticipações nas despesas de saúde dos doentes, ao mesmo tempo que direcciona os seus impostos para dar dinheiro aos hospitais privados dos seus amigos.
Por causa destes problemas todos e da desorganização completa da saúde, as pessoas têm de recorrer a seguros de saúde (das seguradoras dos amigos).
Conseguiu afastar os médicos dos empregos seguros do estado e direccionou-os para a precaridade do trabalho privado (dos amigos), e reduziu enormemente a influência que pudessem ter na população.
Até conseguiu dar faculdades de medicina privadas para os seus amigos.

As pessoas começam a morrer imenso, mas pode pôr a culpa no tempo.

A cereja em cima do bolo é que uma população com menos saúde, mais preocupada com as doenças dos filhos e dos idosos, não sai tanto à rua para se manifestar!



Portanto resta tanto dinheiro para si e para os seus amigos que pode agora viver o resto da sua vida a subsistir exclusivamente numa dieta de lagosta recheada de lagosta, cocaína e prostitutas.

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