Pataniscas Satânicas

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quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Charlie - One last word

Ainda sobre a notícia do momento, e correndo o risco de requentar o assunto, nestes tempos de consumo de eventos recentes à velocidade de spots publicitários, tive um diálogo interessante com um amigo meu.

The argument goes, que o Charlie Hebdo era extremamente provocador, e de alguma maneira, sem merecer, arriscava-se a que lhe acontecesse o que aconteceu. O exemplo usado foi o de ir ter com um grupo de ciganos e insultá-los gratuitamente. E esperar não ser agredido ou esfaqueado.

Não é razoável.

Fiquei a pensar nisto, e fui ver alguns dos cartoons que o Charlie publicou antes do tiroteio. Não gostei nada do que vi, e tive que concordar com o meu amigo. Eram extremamente agressivos, ofensivos, gratuitos. Fiquei a pensar se de facto era preciso aquilo tudo, representações de sodomização de figuras que outros consideram sagradas. Para quê?

Alguma coisa continuou a chatear-me. Tenho-me como um gajo sem pruridos nem susceptibilidades. E gosto muito de humor arriscado.... Porque é que o Charlie me chateava?
Demorei um bocado a  perceber, mas no momento em que entendi, soube que o meu problema era o problema de muita gente.

Não é que os cartoons me ofendessem...  O problema é que não achei pingo de graça aquilo. Não me ri. Talvez um esgar de indiferença. Mais nada. Para mim, o Charlie Hebdo não tem piada nenhuma. Zero.

Mas qual é o conceito de humor? O que é uma piada? A resposta curta é, tudo. A piada não é o que é dito. A piada é o que é rido. Não interessa o que foi que fez os macacos rirem-se. Se os macacos se estão a rir, foi uma piada. Se não, não interessa a intenção, o timing, o delivery, o set up, a punchline. Foi tudo inútil.

Por isso não percebo as pessoas que dizem que ''pode-se gozar com tudo, depende da maneira como é feito''. Não, não depende. Depende se outro alguém lhe acha graça. Mais nada.

''Mas qual é a piada? Que porcaria, mete nojo! Que repugnante, dá-me náuseas... Quem é que acha graça a uma coisa destas?''

Se algum ser humano olha para o Maomé a levar nas nalgas e se escangalha a rir, é uma piada. É impossível alguém a quem falta o ar de tanto rir, pôr-se com falsos moralismos. E quem não gosta, não compra. Muda de canal. Muda o posto do rádio. Vai para outro site. Vai à merda.

Se há um macaco a rir-se, não lhe estraguem a tarde a tentar fazê-lo sentir-se mal, porque se está a sentir bem. Já tivemos o suficiente disso, durante os tempos em que a igreja mandava no estado.

Talvez por isso, não me surpreendeu a reacção do Papa, que disse que dava um murro a quem lhe insultasse a mãe. No dia em que alguém se dirigir ao supremo pontífice, para lhe chamar puta à mãe, já que ele está numa de afiambrar, porque é que não reza ao menino Jesus para fulminar com um raio o transgressor?

Não me interessa se é gratuito, ofensivo, racista. Eu mijei-me a rir com isto. Por isso é uma piada.



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