Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Guerra dos Livros

Há uma guerra a acontecer de que provavelmente não se aperceberam, e é uma coisa razoavelmente grande, e com consequências razoavelmente importantes.

Nada de realmente importante dadas outras questões mais importantes, mas ninguém vem a este blog para questões importantes.
Ninguém vem a este blog [ponto final]

Estou a falar do conflito entre a Amazon e a Hachette.

VS

Provavelmente já ouviram falar da Amazon, gigante das vendas online, mas provavelmente nunca ouviram falar da Hachette, uma das cinco maiores editoras dos EUA, pertencente à maior editora francesa que é a terceira maior editora do mundo, que detém os direitos de livros de autores como Stephen Colbert, Emiliy Dickinson, Christopher Hitchens, Martin Luther King, Nelson Mandela, Stephenie Meyer, J.D. Salinger e Nicholas Sparks.

O que é que acontece, então?

Acontece que os e-books são o futuro.

Sim, sim, eu sei, vocês gostam de mexer nas páginas e ter o livro nas mãos e gostam do cheiro do papel, e essa snobice pretensiosa toda.
Não estou a dizer que estão enganados, essas coisas são de facto agradáveis.
Mas eu sou um snob pretensioso e sei reconhecer snobice pretensiosa quando a ouço e isso são tretas snobs e pretensiosas, portanto calem-se.

Os e-books são o futuro. E a Amazon vende muitos e-books.

E, ao que parece, é muito muito fácil vender produtos digitais online. Basta ter um único ficheiro de meia dúzia de kilobytes guardado num servidor qualquer, as pessoas transferem uma quantidade relativamente enorme de dinheiro e podem fazer download do ficheiro.
Sem custos de impressão, de transporte, nada. Depois de comprar o direito de vender o livro, tudo o resto é quase 100% lucro.

Outra vantagem muito grande de ter uma plataforma online de venda de produtos digitais, é que é muito muito fácil brincar com preços e promoções e saldos. Basta ir à base de dados e alterar os preços. Tão simples como isso.
Isso permite uma grande flexibilidade e um grande poder de manipulação do mercado, permite adaptar com grande fineza os preços às procuras dos compradores.
Tem funcionado ás mil maravilhas para a Steam, por exemplo.

O problema foi que a Hachette não achou piada que a Amazon andasse a brincar assim com os preços dos seus livros. Exigiram mais controlo sobre os preços. Provavelmente exigiram uma maior percentagem dos lucros.
Imagino que a conversa tenha corrido mais ou menos assim:

Hachette - vocês não podem mexer assim nos preços dos nossos livros!
Amazon - claro que podemos! somos a Amazon, fazemos o que quisermos! voltem para as vossas prensas móveis, imprimir bíblias do Gutenberg, enquanto nós definimos o futuro.
Hachette - ai é? olhem que se não fizerem o que mandamos, não vos deixamos mais vender os nossos livros!
Amazon - ok, vamos deixar de vender os vossos livros.
Hachette - óptimo! Isso - não! esperem, o quê?

E não foi só tornarem indisponíveis para venda livros da Hachette, porque a Amazon percebe como as pessoas na internet funcionam. A amazon tornou mais lenta a expedição de livros da Hachette, tirou o botão de pré-venda dos livros da Hachette. Basicamente começou a irritar os compradores.

Perderam dinheiro, mas a Hachette perdeu ainda mais.

Outro grupo de pessoas que ficou irritado foram os autores. Aquelas pessoas que precisam que os seus livros sejam vendidos para comerem ao fim do mês.

Até o Neil Gaiman veio dizer umas coisas muito poéticas e profundas acerca de como os livros são sagrados e não devem servir de arma de arremesso numa batalha económica entre duas superpotências das vendas de livros.

Foi aí que a Amazon deu o seu golpe de génio.

A Amazon fez a seguinte proposta: enquanto durasse esta disputa legal entre a Amazon e a Hachette, os autores da Hachette receberiam 100% dos lucros da venda dos seus livros.

KA-BLAM!!!

A Amazon acabou de oferecer aos autores mais lucro do que alguma vez eles tiveram com a Hachette.
Obviamente alguns autores não gostaram, vieram dizer que não querem ser usados na guerra, mas isso é inconsequente. 
Alguns autores, muitos, provavelmente, vão aceitar. Porque dinheiro.
E vão passar a escrever directamente para a Amazon, cortando um intermediário, que lhes vai dar mais dinheiro do que eles recebiam antes, o que os vai motivar a escrever mais livros.
E isso é bom.

A não ser é claro que a Amazon consiga um monopólio da venda de livros, e os monopólios nunca são coisas agradáveis, mas isso, mais uma vez, também é provavelmente inevitável.

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