Pataniscas Satânicas

Pataniscas Satânicas

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Dos benefícios inesperados de vestir um pijama horroroso

Fui hoje operado. Não se preocupem as minhas legiões de fãs, estou bem, de tal maneira que estou de perna cruzada na minha cama de hospital a escrever acerca do assunto.

Nota: a melhor maneira de convencerem os enfermeiros e os médicos de que estão bem e que vos devem dar alta é estar de pernas cruzadas na cama durante a visita.

Valorizo sempre imenso qualquer oportunidade de experienciar o Serviço Nacional de Saúde, ou qualquer serviço de saúde, porque é sempre fácil perder a perspectiva das coisas.

Tive uma experiência engraçada, e que não foi partirem ossos dentro da minha cabeça. Foi o seguinte:

Muitas vezes ouço ou leio acerca da despersonalização ou desumanização que acontece dos doentes nos hospitais.
Quando me despi completamente, vesti aquele pijama horroroso de hospital e me sentei numa cadeira de rodas com um saco de soro ao colo e fui arrastado corredor fora, consegui perceber bem essa despersonalização. Estava vulnerabilizado, nem a dignidade de andar pelo meu próprio pé me restava.

Não sabia bem o que dizer à enfermeira, que estava a tentar ser simpática. Senti-me particularmente embaraçado quando entrámos para o elevador apinhado de gente, e a cadeira de rodas em que eu estava ficou numa posição estranha, desconfortável para as outras pessoas. Senti vontade de lhes pedir desculpa.

Mas depois, e porque tenho o benefício da perspectiva, lembrei-me de uma coisa muito importante: eu era subitamente um doente!
Tinha um pijama horroroso e uma cadeira de rodas para prová-lo!
E os doentes ficam imediatamente despersonalizados e desumanizados!
Portanto que é que eu tinha para me preocupar?
A enfermeira não queria que eu lhe dissesse nada de especial. O dia dela ia correr tanto melhor quanto menos comentários e conversa da treta eu fizesse. O melhor que eu lhe podia fazer era ser um doente inexigente, silencioso e cordial.
As pessoas olhavam para mim e ignoravam-me ou, na pior das hipóteses, tinham pena. Eu estava desumanizado, era completamente invisível.

O meu embaraço e ansiedade social  desvaneceram-se tão rapidamente como tinham surgido.

Depois drogaram-me e deram-me umas marteladas dentro da cabeça, mas se falarem com as pessoas certas eu provavelmente estava a merecê-las.

2 comentários:

  1. Ser um doente é péssimo. quando fui operado a minha hérnia mandaram-me ficar em posição fetal enquanto me anestesiavam com uma agulha comprida nas costas. foi menos que divertido. mas fiquei quietinho.
    Claro que não tive uma proteçao badass no ouvido, tipo personagem de anime, mas pronto....

    ResponderEliminar